quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Desmitificando as Dietas da Moda – Paleodieta (dieta paleolítica)



“Olha! Mais uma dieta!” pensa aquela pessoa que já fez quinhentas dietas e que hoje pesa mais do que quando começou a primeira. “Mas esta tem um nome diferente, lembra aquelas “coisas científicas” que passam no Discovery, no History Channel... Então deve funcionar!”. Será?

O que é a paleodieta?

É uma alimentação a base de plantas selvagens e animais, baseada na alimentação dos nossos ancestrais, o Homo sapiens, no período da pré-história denominado Paleolítico.
Ok. Ninguém vai sair por aí comendo ervas daninhas porque não é o vegetal mais abundante na feira ou no supermercado, a menos que você tenha uma horta ou um jardim em casa (e porque apenas algumas ervas daninhas são comestíveis, comer a errada seria desastroso). Muito menos carne de mamute! Mesmo porque os coitados já estão extintos...
A proposta é incentivar o consumo de verduras, frutas, carnes, suplementos alimentares (polivitamínicos) e evitar ou excluir cereais, laticínios, açúcar e sal.


O que prometem?

Esta dieta está baseada na premissa de que nós estamos adaptados à dieta dos nossos ancestrais já que nosso DNA, nossa genética, pouco mudou desde a pré-história. Logo, traria saúde, bem-estar e claro, perda de peso.

Os contras...


Pra não acabar aqui ou soar repetitivo (“afinal você fez um post igual ao outro só que com outro nome?! Que picareta!”), prosseguirei com algumas reflexões.

Esta dieta nada mais é do que uma (digo, mais uma...) dieta com baixo teor de carboidrato, assim como a Dukan e a Atkins, ou seja... Pegam o conceito da mesma dieta e mudam o nome para ganhar dinheiro, vender outros livros, atingir outro público (ou o mesmo público, aquelas mesmas pessoas que já fizeram todas as dietas possíveis), vender um outro “milagre”. Não existe milagre.

Além disso, acho que deu pra perceber que a dieta não é igual a dos nossos ancestrais, ela é parecida... Atualmente não temos a mesma disponibilidade de alimentos, não vamos encontrar os mesmos vegetais e os mesmos animais que eles comiam e muito menos prepará-los do modo como eles faziam. O Homo sapiens, na Idade de Pedra, já dominava o fogo, mas tenho certeza de que eles não refogavam nada numa panela de inox, com cebola picadinha, alho ou azeite extra virgem. Tampouco tiveram a oportunidade de assar um bolinho pra comer no lanche da tarde... Não só pelo fato de que não existia eletricidade ou fogão, mas eles não tinham ideia muitas vezes de quando seria a próxima refeição! Comida não era abundante como é nos dias de hoje. Comer aqueles alimentos e comer pouco não era uma escolha, era a única opção. A comida que caçavam-coletavam tinha que ser repartida pelas pessoas do grupo, quem garante que eles se sentiam ótimos e não desejavam comer mais?


"Uma estratégia de estilo de vida saudável. Coma seus vegetais. Evite carnes gordas. Exercite-se diariamente." Era o jeito, né?!...
Também tenho a ligeira impressão de que o estilo de vida deles era bem diferente do nosso. Sei que a tecnologia é uma via de mão dupla, trouxe uma série de problemas, mas os benefícios são inegáveis. Não defendo o excessivo consumo de alimentos altamente processados (sou uma profissional da saúde, poxa!), mas hoje encontramos infinitas opções de alimentos para o consumo e temos o poder de escolher o que é mais adequado para cada situação da nossa vida. Não devia existir uma regra que nos impedisse de comer um pedaço de chocolate quando temos vontade só porque os homens das cavernas não comiam. Eles não tinham! Se existisse, será que não comeriam?


Outra alegação da paleodieta é que esta reduz o colesterol “ruim”, previne contra doenças cardiovasculares e regula a glicemia, contribuindo para a prevenção e tratamento do diabetes. Até aí, a reeducação alimentar também funciona! E não tem o nome “dieta” nem as restrições alimentares e psicossociais intrínsecas das dietas.

Além da quantidade insuficiente de carboidratos desta dieta, se é tão saudável, por que recomendar a ingestão de polivitamínicos? Porque tomar cápsulas é mais prazeroso do que comer um pouco de tudo? Ah é, não pode tomar leite, nem comer laticínios em geral... Senão a saúde dos ossos já viu, né?!


Existe algum estudo que mostra que o Homo sapiens estava adaptado àquela dieta? Eles ficavam menos doentes? Menos desnutridos? Tinham o colesterol ótimo? (– alguém dosou?) Ou será que não adoeciam por consequência de doenças crônicas porque morriam precocemente ou adoeciam primeiro de acidentes ou doenças infecciosas?

O que significa dizer que “nossa genética pouco mudou desde o Paleolítico”? Pra você ter uma ideia, uma pessoa se difere da outra por causa de “apenas” 0,1% do nosso DNA! Temos os mais variados tons de pele, peso, altura, tendências em desenvolver doenças, alergias, intolerâncias, alguns são canhotos, outros destros, uns têm muito cabelo, outros são carecas... E tudo isso por causa de 0,1% dos 20000 a 25000 genes do nosso DNA – é gene pra caramba! Qual a porcentagem de genes mudou de lá pra cá? Foi pouco mesmo?

Por fim, não custa nada repetir: dietas podem causar obsessão por comida, exageros e compulsões alimentares (principalmente pelos alimentos proibidos), ganho de peso e aumentam as chances de um indivíduo geneticamente predisposto desenvolver um transtorno alimentar.

Referências


Turner BL, Thompson AL. Beyond the Paleolithic prescription: incorporating diversity and flexibility in the study of human diet evolution. Nutr Rev. 2013 Aug;71(8):501-10.


Philippi ST et al. Pirâmide alimentar adaptada: guia para escolha dos alimentos. Rev. Nutr. Apr  1999; 12(1):65-80.

Araujo MC et al. Consumo de macronutrientes e ingestão inadequada de micronutrientes em adultos. Rev. saúde Pública [Internet]. Feb 2013 [acesso em 2013 Sep 10]; 47(1). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489102013000700004&lang=pt

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Atleta de sofá




Há algum tempo, antes mesmo da criação do blog, ouvi no rádio uma notícia curiosa: “assistir a filmes de terror queima cerca de 200 calorias”. Lembrei da notícia, no mínimo engraçada, depois de ir ao cinema neste fim de semana.

Está curioso(a)? Pois aí vai:

Segundo pesquisadores da Universidade de Westminster, assistir a 90 minutos de filmes de terror gasta cerca de 113 Kcal que equivale a 30 minutos de caminhada.

Eles analisaram o gasto energético de 10 indivíduos que assistiram a 10 filmes de terror. Para isso, eles monitoraram os batimentos cardíacos, o consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono.  O estudo concluiu que a adrenalina foi responsável pelo aumento do gasto energético, e que o medo também acelera a frequência cardíaca.

Richard Mackenzie, especialista em metabolismo celular e fisiologia da Universidade de Westminster, explicou: "Como o pulso acelera e o coração bombeia sangue mais rapidamente, o corpo libera muita adrenalina. É isso o que acontece durante curtos períodos de estresse intenso (ou, neste caso, causado por medo), que é responsável por diminuir o apetite, aumentar a taxa metabólica basal e gastar, por fim, mais calorias”.

O filme que promoveu maior gasto energético foi “O Iluminado”, seguido pelo “Tubarão” e “O Exorcista”. Veja a lista completa:

1. O Iluminado: 184 calorias

 
2. Tubarão: 161 calorias 


3. O Exorcista: 158 calorias 


4. Aliens, O Resgate: 152 calorias

5. Jogos Mortais: 133 calorias 

6. A Hora do Pesadelo: 118 calorias 

7. Atividade Paranormal: 111 calorias 

8. A Bruxa de Blair: 105 calorias 

9. O Massacre da Serra Elétrica: 107 calorias 

10. [REC]: 101 calorias
  
A notícia é do site The Telegraph.

Assistir a filmes de terror pode ser muito divertido, principalmente quando todos os seus amigos aparecem para assistir junto! Mas pra quem se animou com a ideia de trocar a academia ou as atividades programadas em casa ou ao ar livre por uma sessão cinema, pode tirar o cavalinho da chuva!

É evidente que a adrenalina aumenta o gasto energético, mas não temos dados suficientes para concluir muitas coisas. O número de participantes é pequeno (apenas 10 indivíduos participaram da pesquisa) e não sabemos nada a respeito do sexo, idade ou preferências dos participantes. Será que indivíduos jovens curtem mais este tipo de filme, se envolvem mais com as cenas e liberam uma descarga maior de hormônio do que um indivíduo mais velho ou o contrário? Mulheres se impressionam mais ou menos que homens?

A adrenalina foi responsável pelo aumento do gasto energético neste estudo. Porém, durante a atividade física liberamos muitos outros hormônios que não só aceleram o metabolismo e estimulam o crescimento e renovação celular, mas também proporcionam sensação de bem estar, que é o caso da endorfina.

 
 
Vale ressaltar que o gasto energético durante a atividade física é maior, uma vez que uma caminhada de 30 minutos equivale ao triplo, 90 minutos, no sofá, assistindo ao filme. Sem contar que nosso corpo continua a gastar energia depois da atividade física, e muitas pessoas, durante o filme, costumam comer o balde de pipoca regada na manteiga, o balde de refrigerante, chocolates, balas, algodão doce, chiclete, pirulito... Que ultrapassam a quantidade de energia gasta durante o filme.

 
A atividade física liberada por um médico e orientada por um educador físico é a melhor maneira de melhorar o condicionamento físico, a força e a flexibilidade. Além disso, reduz os riscos para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, previne a osteoporose, reduz o stress e contribui para o bom humor, melhora a memória e a coordenação motora, auxilia no gasto energético e na perda de peso, melhora a autoestima, dentre muitos outros benefícios.


 
Atleta de sofá, só que não.