sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Engorda ou emagrece?


Abacate engorda? Glúten engorda? Lactose engorda? Óleo de coco emagrece? Pimenta emagrece? Tomar vinagre morno em jejum emagrece? Olha... Este último, se emagrece eu não sei, mas que deve ser horrível, deve!

Brincadeiras à parte, atire a primeira pedra o nutricionista que nunca ouviu uma pergunta dessas!

Quem acompanha o Fome de quê? está cansado de saber que nenhum alimento por si só promove ganho ou perda de peso e que o que determina isso é a quantidade e frequência na qual comemos determinados alimentos. Aliás, é esta a definição de dieta, o conjunto de alimentos e bebidas que ingerimos ao longo de um período, sem o sentido de privação ou rigidez atrelado.

Existem conceitos cuja resposta não é apenas “certo” ou “errado”, “sim” ou “não”. Vale relembrar o texto que escrevi sobre os cinquenta tons de cinza...

Exemplo: Comer alface é saudável?

Não comer alface, é saudável?

E comer SÓ ALFACE, é saudável?

Alface é uma verdura com alto teor de água, contém fibras, algumas vitaminas, minerais, tem poucas calorias e pode ser servida como entrada, acompanhamento ou prato principal. Fica ótima com um belo molho à base de azeite, sal, orégano, vinagre balsâmico ou tempero de sua preferência. Quem não a consome, pode perfeitamente substituir por alguma outra folha... A alface, por outro lado, não tem quantidade significativa de proteínas, lipídeos, vitaminas como a K, e minerais como ferro, por exemplo.

Assim como sorvete. É consenso de que não é uma boa ideia comer banana split todos os dias... Ou substituir uma refeição por banana split para tentar “economizar calorias”. Tampouco vale passar a semana toda à base de dietas malucas, restritivas, e acabar com 1L de sorvete numa sentada só. Mas é perfeitamente saudável aproveitar aquela casquinha num dia de calor num passeio com a família, ou estar em um lugar diferente, numa viagem, e provar o melhor gelato da sua vida!

Percebe que é inviável depender de um único alimento ou tipo de alimento?

Ainda que existisse um “superalimento”, completo em macro e micronutrientes, seria este palatável? Conseguiríamos viver dele todos os dias e em todas as refeições? Será que este “alimento mágico” resistiria às variações climáticas? Atenderia a todas as nossas necessidades quanto seres humanos, com poder de escolha, vontades, vida social, questão sociocultural, variações hormonais? Cairia no gosto de todas as culturas?

Desconfie de promessas milagrosas. Não aposte todas as suas fichas num só alimento, produto, dieta, porque a ciência da nutrição está em constante evolução.

Vide a saga da margarina, coitada! Uma hora surgiu para salvar a pátria e combater o perigo do desenvolvimento de doenças cardiovasculares, potencialmente desencadeadas por um elevado consumo de gorduras saturadas presentes no vilão manteiga. Depois descobriram que o mocinho estava mascarado, cheio de gordura trans, que era pior do que a mosca do cocô do cavalo do bandido. Então a hidrogenação do processo de fabricação da margarina foi substituída pela interesterificação... E agora, é saudável? Não sei! – E mesmo que estudos longitudinais apontem um real malefício ou benefício do alimento X, Y ou da dieta do Mediterrâneo ou do raio que parta, nunca haverá unanimidade entre os especialistas.

Terry Border

Melhor do que pensar no que “emagrece” ou “engorda” é pensar na QUALIDADE da alimentação. A melhor escolha é sempre a moderação, a variedade, ouvir seu corpo e respeitar sua cultura, raízes, vontades, com muito carinho e respeito.

Referências:

1. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO) [base de dados na Internet]. Campinas: UNICAMP. [acesso em 2016 out 18]. Disponível em: http://www.unicamp.br/nepa/taco/tabela.php?ativo=tabela


2. Xavier HT, Izar MC, Faria Neto JR, Assad MH, Rocha VZ, Sposito AC, Fonseca FA, dos Santos JE, Santos RD, Bertolami MC, Faludi AA, Martinez TLR, Diament J, Guimarães A, Forti NA, Moriguchi E, Chagas ACP, Coelho OR, Ramires JAF; Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Diretriz de Prevenção da Aterosclerose. Arq Bras Cardiol 2013; 101(4 Suppl 1):1-36.