Postar fotos de comida virou
febre nas redes sociais! Comidinhas de boteco, comida da avó, sucos verdes,
doces, cafés... Dá água na boca só de lembrar! Na contramão disto, o programa
“bem estar” da rede Globo resolveu lançar a seguinte campanha: pessoas postam
fotos de comidas às quais resistiram nas redes sociais com a hashtag eu resisti (#euresisti).
A explicação
é que o “prazer de ter resistido à tentação pode ser maior que o de ter comido.”.
Todo mundo precisa de um motivo,
de um incentivo para mudar e fica muito mais fácil se outras pessoas querem o
mesmo, certo? Acredito que a proposta do programa pode até soar bem
intencionada, mas a minha opinião é de que isto alimenta um elefante rosa.
Elefante rosa?!
Pois é exatamente este o
exercício que a equipe do instituto de psiquiatria do hospital Maudsley
(Londres) propõe no modelo de tratamento da anorexia nervosa para adultos:
- Por 1 minuto, pense num elefante rosa.
- Tente imaginar como ele se parece: rosa claro, rosa chiclete, pink, rosa bebê, off white, rosa shoking, com bolinhas, todo liso, áspero, macio, fofinho...
- Agora, por 1 minuto, não pense no elefante rosa.
Não é para pensar mais no
elefante rosa, hein?
Não vale trapacear e ficar lembrando
do elefante rosa...
E agora, já esqueceu do
elefante rosa?
Brincadeiras à parte, o que
acontece?
Fica muito difícil não
pensar no tal elefante rosa!!! Isso ocorre porque nosso cérebro tem que fazer
um grande esforço para ignorar pensamentos e sentimentos. E isto acontece com a
comida!
Transpondo para a questão da
hashtag #euresisti, focar muito o
pensamento em “resistir ao bolo de chocolate”, por exemplo, faz com que
inconscientemente pensemos mais nele! Além disso, embutir um significado e
categorizá-lo (“tentação”) só faz com que o bolo de chocolate pareça ainda mais
especial, atraente.
Sabemos que uma alimentação
mal planejada e com excesso de alimentos ultraprocessados, fast food e
nutrientes como sódio, gordura e açúcar podem levar à obesidade, colesterol
elevado, pressão alta, diabetes e aumento das chances de morte por doenças
cardíacas. Porém, o reforço negativo (falando em dieta) é igualmente
prejudicial – Mesmo existindo n
dietas diferentes, a obesidade, por exemplo, não só não reduziu como aumentou
no Brasil e mundialmente.
Então o que fazer para mudar?
O melhor caminho é apostar
na reeducação alimentar – aprender a comer um pouquinho de tudo, inclusive seus
alimentos favoritos.
Aprender a se satisfazer com
menores quantidades, comer devagar, saborear o alimento, pensar na quantidade e
frequência na qual comemos determinados alimentos. Isto é bem diferente de
“restringir”, “resistir”. Aliás, como já citei diversas vezes, restrição pode levar
à COMPULSÃO ALIMENTAR.
O pensamento de “tudo” ou “nada”
tampouco é sinônimo de alimentação saudável.
Por fim, é necessário
entender que todos os alimentos da pirâmide alimentar são importantes para a
promoção e manutenção da nossa saúde e é muito melhor do que “demonizar”
categorias de alimentos.
Por favor, não alimente o seu
elefante rosa!
#nãoresisti...
Referências:
Treasure J et al. MANTRA.
Maudsley model of anorexia nervosa treatment for adults. The emotional and
social mind. p.97.
Philippi, ST et al. Pirâmide
alimentar adaptada: guia para escolha dos alimentos. Rev. Nutr., Campinas,
v. 12, n. 1, abr. 1999.
Sempre defendi o "um pouco de tudo", Mas como vc pode ver, não é fácil lutar contra todas as proibições.
ResponderExcluirExcelente!!! Exatamente isto, Thais. Semelhante à ideia de q qto mais proibido, maior a tentação.
ResponderExcluirPra que sofrer desse jeito?!? Na dose certa, td é bem vindo! ;)
Abç
Muito bacana seu texto, vejo que é bem isso que ocorre com os pacientes que trabalho, parabéns.
ResponderExcluirlegal. crítica construtiva.
ResponderExcluirPerfeito!
ResponderExcluirAmei o post!
ResponderExcluirServiu-me como uma luva!
Abraços!
Também sou nutricionista e queria te parabenizar pelo blog. Pesquisar e citar fontes dignas de confiança! Que raridade! Me dá alegria ver um trabalho bem feito.
ResponderExcluirMuito obrigada!
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