quarta-feira, 16 de julho de 2014

Rede Globo, favor não alimentar o elefante rosa!


Postar fotos de comida virou febre nas redes sociais! Comidinhas de boteco, comida da avó, sucos verdes, doces, cafés... Dá água na boca só de lembrar! Na contramão disto, o programa “bem estar” da rede Globo resolveu lançar a seguinte campanha: pessoas postam fotos de comidas às quais resistiram nas redes sociais com a hashtag eu resisti (#euresisti). 


A explicação é que o “prazer de ter resistido à tentação pode ser maior que o de ter comido.”.
Todo mundo precisa de um motivo, de um incentivo para mudar e fica muito mais fácil se outras pessoas querem o mesmo, certo? Acredito que a proposta do programa pode até soar bem intencionada, mas a minha opinião é de que isto alimenta um elefante rosa.

Elefante rosa?!


Pois é exatamente este o exercício que a equipe do instituto de psiquiatria do hospital Maudsley (Londres) propõe no modelo de tratamento da anorexia nervosa para adultos:
  • Por 1 minuto, pense num elefante rosa.
  • Tente imaginar como ele se parece: rosa claro, rosa chiclete, pink, rosa bebê, off white, rosa shoking, com bolinhas, todo liso, áspero, macio, fofinho...
  • Agora, por 1 minuto, não pense no elefante rosa.

Não é para pensar mais no elefante rosa, hein?

Não vale trapacear e ficar lembrando do elefante rosa...

E agora, já esqueceu do elefante rosa?

Brincadeiras à parte, o que acontece?

Fica muito difícil não pensar no tal elefante rosa!!! Isso ocorre porque nosso cérebro tem que fazer um grande esforço para ignorar pensamentos e sentimentos. E isto acontece com a comida!

Transpondo para a questão da hashtag #euresisti, focar muito o pensamento em “resistir ao bolo de chocolate”, por exemplo, faz com que inconscientemente pensemos mais nele! Além disso, embutir um significado e categorizá-lo (“tentação”) só faz com que o bolo de chocolate pareça ainda mais especial, atraente.

Sabemos que uma alimentação mal planejada e com excesso de alimentos ultraprocessados, fast food e nutrientes como sódio, gordura e açúcar podem levar à obesidade, colesterol elevado, pressão alta, diabetes e aumento das chances de morte por doenças cardíacas. Porém, o reforço negativo (falando em dieta) é igualmente prejudicial – Mesmo existindo n dietas diferentes, a obesidade, por exemplo, não só não reduziu como aumentou no Brasil e mundialmente.

Então o que fazer para mudar?

O melhor caminho é apostar na reeducação alimentar – aprender a comer um pouquinho de tudo, inclusive seus alimentos favoritos.

Aprender a se satisfazer com menores quantidades, comer devagar, saborear o alimento, pensar na quantidade e frequência na qual comemos determinados alimentos. Isto é bem diferente de “restringir”, “resistir”. Aliás, como já citei diversas vezes, restrição pode levar à COMPULSÃO ALIMENTAR.

O pensamento de “tudo” ou “nada” tampouco é sinônimo de alimentação saudável.

Por fim, é necessário entender que todos os alimentos da pirâmide alimentar são importantes para a promoção e manutenção da nossa saúde e é muito melhor do que “demonizar” categorias de alimentos.

Por favor, não alimente o seu elefante rosa!


#nãoresisti...

Referências:

Treasure J et al. MANTRA. Maudsley model of anorexia nervosa treatment for adults. The emotional and social mind. p.97.


Philippi, ST et al. Pirâmide alimentar adaptada: guia para escolha dos alimentos. Rev. Nutr.,  Campinas,  v. 12,  n. 1, abr.  1999.

8 comentários:

  1. Sempre defendi o "um pouco de tudo", Mas como vc pode ver, não é fácil lutar contra todas as proibições.

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  2. Excelente!!! Exatamente isto, Thais. Semelhante à ideia de q qto mais proibido, maior a tentação.
    Pra que sofrer desse jeito?!? Na dose certa, td é bem vindo! ;)
    Abç

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  3. Muito bacana seu texto, vejo que é bem isso que ocorre com os pacientes que trabalho, parabéns.

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  4. Amei o post!
    Serviu-me como uma luva!

    Abraços!

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  5. Também sou nutricionista e queria te parabenizar pelo blog. Pesquisar e citar fontes dignas de confiança! Que raridade! Me dá alegria ver um trabalho bem feito.

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