quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

É carnaval!



 
É carnaval! O nome da festa, que se originou na Grécia e foi adotada pela Igreja Católica, vem do latim carne vale, que significa “adeus à carne”. Já hoje está mais para adeus ao glúten, à lactose, aos carboidratos, à comida de verdade... Vale tudo pra buscar “o corpo dos sonhos”, mesmo aos 45 do segundo tempo!

Como ainda não incluíram a disciplina “magia aplicada – módulos I, II e III” na graduação dos cursos de nutrição (eu ainda não recebi uma “coruja-correio” de Hogwarts)... Não há o que se possa fazer nesta altura do campeonato, certo? E é aí que as pessoas apelam para dietas bizarras.

Não é novidade. Dietas restritivas levam à fadiga, perda de massa muscular, falta de nutrientes, tonturas, obsessão por comida e outros perigos, como desenvolver transtorno alimentar em indivíduos geneticamente predispostos. Só aqui no blog já devo ter alertado umas 250 mil vezes... E você não vai querer correr o risco de passar mal e perder a festa, tenho certeza.

Enfim. O carnaval está se tornando uma festa muito chata! Me sinto num desfile infindável de carnes (e de egos!). Carnaval ou churrascaria? Não é minha intenção soar moralista, não é a falta de roupa que me preocupa, não é a nudez que me espanta, não é o bumbum que me choca, mas sim a obcessão pela “bunda na nuca”, pela “barriga negativa”, ter o corpo mais sarado, mais durinho, mais magro, mais bronzeado, mais torneado, mais suado, rasgado...

Julia Günthel, eleita a contorcionista mais flexível (e PhD em "bunda na nuca")
Assim como as escolas de samba recebem notas, exibir o corpo passou do lúdico ao concurso. O corpo é uma máquina fantástica, nos leva aonde queremos, faz a gente dançar, pular, sentir, beijar, abraçar, vestir... Tudo é passível de celebração. As escolas e os corpos! Não deveria existir competição.






Beth Ditto em campanha para M.A.C.
Quando criança eu gostava de ver as fantasias, as maquiagens, a criatividade, ouvir a bateria e ir ao clube. O carnaval de hoje tem gosto de confete (de papel, é claro) regado a suor e lágrimas. Cadê as marchinhas? Cadê a alegria?


Não deixe seu carnaval passar em branco: mais um carnaval encanado com o peso e lá se foi outro ano!

Se for pra correr atrás, que seja do trio elétrico!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Corpos de modelar




Em 2014 prometi pra mim mesma que eu não ia mais perder meu tempo respondendo comentários machistas, sexistas ou de cunho preconceituoso na internet (redes sociais e blogs alheios). Ninguém está interessado na minha opinião, ela não é mais importante do que a de ninguém, ninguém pediu por ela e não ganho nada com isso. Minha opinião é minha opinião.

Mas não é por sorte e nem coincidência que tenho um blog... O nutricionista é um profissional da SAÚDE e venho me deparando com imagens, conceitos cada vez mais distorcidos que mexem muito com a percepção corporal, autoimagem e autoestima das pessoas, e isso muitas vezes afeta o comportamento alimentar e (voilà!) a saúde. Isto é muito sério.

Leio matérias e comentários sobre dieta, saúde, atividade física, “corpo perfeito” o ano todo, mas parece que as pessoas perdem o bom senso no verão! Tá certo que nunca vi um verão tão quente em toda minha vida, vai ver os recordes de temperatura mexeram com a capacidade cognitiva das pessoas (e queimaram meu pavio)...

Mês passado li algumas coisas muito positivas, cangas ao alto e mais algumas coisas que vou compartilhar hoje com vocês.  Como tudo que é bom dura pouco, essas notícias foram inundadas de preconceito e valores distorcidos.

Ano passado fiz um post sobre a iniciativa da marca sueca Åhléns City, que colocou manequins em “tamanhos e formas” reais em suas lojas. Recentemente, a marca norte-americana de lingerie Aerie convidou mulheres normais (não modelos) para divulgar sua nova coleção primavera/verão e decidiu não utilizar Photoshop para tratamento das imagens.

A marca esclareceu:

“QUERIDAS GAROTAS AERIE, achamos que é hora de mudança. Achamos que é hora de ser real e pensar real. Queremos que todas as garotas se sintam bem sobre si mesmas e sua imagem, por dentro e por fora. Isso significa CHEGA DE RETOQUES E DE SUPERMODELOS. Por quê? Porque não há motivo para retocar a beleza. Achamos que A VERDADEIRA VOCÊ É SEXY" (em tradução livre).















A pior parte foi ler alguns comentários, sobretudo masculinos – alguns rapazes “sugeriram delicadamente” que as moças comessem direito e fossem malhar! Puxa, queria ter um scanner desses que adivinhasse a dieta e o estilo de vida das pessoas só de bater o olho, isso adiantaria muito do meu tempo nas consultas!...

Atividade física e alimentação saudável sem dúvida são parte da “fórmula mágica” para a saúde, mas não transformam todas as pessoas em modelos ou fisiculturistas. Existe um potencial genético, um limite para perda de peso e ganho de massa muscular. Além disso, quem garante que modelos e fisiculturistas têm necessariamente hábitos saudáveis?

E outra coisa: onde essas moças estão “flácidas” (como sugeriram outros comentários)? Todas elas são jovens... E magras! E digo mais: pra que (ou pra quem) elas deveriam ser mais magras, ou mais musculosas? Além de “beleza” ser um conceito abstrato e subjetivo, o que isso mudaria na vida dessas mulheres? E na vida das outras pessoas?

Estamos tão seduzidos por imagens falsas, fabricadas pelo Photoshop que nos confundimos ao nos depararmos com uma imagem de verdade, com mulheres “comuns” e sem retoques.
E foi exatamente contra retoques exagerados em imagens em campanhas publicitárias que o diretor de arte português Daniel Soares resolveu protestar: ele colou barras de Photoshop nos outdoors da marca H&M!






Essa conversa me lembrou uma palestra que assisti na Faculdade de Saúde Pública da USP, ministrada pela nutricionista Fernanda Scagliusi, sobre o Photoshop. Ela começou com a foto abaixo e disse “Esta imagem tem Photoshop”. A plateia segurou o riso. Tá, demos risada... É claro, é óbvio que tem Photoshop! E ela continuou “Isto é uma imagem de uma pessoa real (Johnny Depp) que passou horas se maquiando e se caracterizando para parecer algum ser que não existe e a foto ainda foi tratada de modo com que parecesse falso”.

O ator Johnny Depp caracterizado de Chapeleiro Maluco para o filme "Alice no país das maravilhas" do Tim Burton

Antes que a gente achasse que ela estava ficando maluca ou antes que fossemos embora, ela prosseguiu e mostrou uma série de imagens que, se não fossem do Johnny Depp caracterizado de Chapeleiro Maluco, nós não conseguiríamos dizer se era real ou não. Isso não é nada engraçado.

Folheamos revistas, vemos fotos de artistas nos sites e achamos que aquilo é o normal, e que nós somos errados. Ou mais engraçado: um paparazzo tira uma foto de alguém na praia e comentamos “Nossa, Fulano tá acabado”. Não. Aquele é o verdadeiro Fulano. Aquela foto que você viu na mídia é o Chapeleiro Maluco, é o Fulano que se arrumou para a foto, que por sua vez passou por tratamento (Photoshop) pra parecer alguém que você nunca poderá ser naturalmente. Nem ele é assim de verdade...

Nosso corpo tem limitações genéticas, estruturais, não funciona como um boneco de massa de modelar que podemos deixá-lo exatamente do jeito que queremos. Pessoas têm poros no rosto! Juro! Celulite já era, a moda agora é reparar nos poros das pessoas...

As atrizes Scarlett Johansson e Kate Winslet são fotografadas sem maquiagem pelo fotógrafo Chuck Close. Elas que, antes de serem atrizes, são pessoas, e pessoas têm poros.

O cérebro de algumas pessoas parece não acompanhar o corpo. Quero dizer, na ânsia de conquistar o “corpo perfeito”, quantos continuam a se enxergar maiores ou menores do que realmente são? São poucos os casos de transtornos alimentares (a prevalência em termos de diagnóstico fechado, com exclusão nos não especificados, é relativamente baixa), mas o prejuízo e sofrimento que isso traz para o indivíduo, familiares e amigos é enorme, inestimável.

Dentre as tantas imagens com significados diversos, eu só tenho uma recomendação: questione-se!

Foto da série "Distortions" do fotógrafo André Kertész

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

É pavê ou pacomê?



Desculpa, não aguentei.

Fome de quê? Fome de comida, e por que não, fome de arte!

Já mostrei aqui o inusitado trabalho do norte-americano Terry Border, que transforma objetos (e comida!) em arte e também o da artista Ida Frosk para o projeto “Art Toast”. Esta semana vi outro trabalho supercriativo: a identidade de 18 nações traduzida pela cultura alimentar!

Esse foi o trabalho da agência de publicidade WHYBIN/TBWA para o Festival Internacional de Gastronomia em Sydney, Australia. Confira as fotos:

Austrália

Torta de carne e molho

Brasil

Folhas de bananeira, limão, abacaxi e maracujá
China

Pitaia e carambola
Coréia do Sul

Kimbap e molhos

Espanha

Chouriço e arroz

Estados Unidos

Cachorro-quente, ketchup e mostarda

França

Roquefort, queijo brie e uvas
Grécia

Azeitonas e queijo feta
Índia

Frango ao curry, cheera thoran (espinafre) e papadum
Indonésia

Curry apimentado e arroz
Itália

Manjericão, espaguete e tomate
Japão

Atum e arroz
Líbano

Tomate, pão sírio e salsinha
Reino Unido

Scone, creme e geleias
Suíça

Charcuteries e queijo suíço

Tailândia

Molho de chilli, coco ralado e carangueijo azul
Turquia

Manjar turco (Já havia dito aqui que meu sonho era experimentar kürtöskalács, tipo um pão doce húngaro. Pois bem. Manjar turco é meu outro sonho de consumo, desde que assisti "As crônicas de Nárnia" há séculos. Nem sei se é bom, mas aquela cena me dá água na boca!)
Vietnã

Rambutã, lichia e carambola

Quais são suas preferidas?


Créditos:

Cliente: Sydney International Food Festival
Agência de publicidade: WHYBIN/TBWA
Diretor executivo de criação: Garry Horner
Diretor de criação: Matt Kemsley
Diretor de arte: Miles Jeffreys
Redatora de publicidade: Tammy Keegan
Fotógrafa: Natalie Boog
Retocador de imagens: Nick Mueller
Food stylist: Trish Heagerty