Para aqueles que só enxergam a relação de amor e ódio quando o assunto é Natal, ou melhor, comida de Natal. E não me refiro à polêmica de colocar ou não uva passa no arroz! A questão é mais profunda do que isso. Há alguns anos postei algo parecido aqui, mas segue uma versão mais completa.
1 – Não faça dieta para o Natal, para o Reveillon, para o verão...
Aliás, não faça dieta nunca! Dietas podem causar
obsessão por comida (lembra da Sara Goldfarb?), exageros e compulsões
alimentares (principalmente pelos alimentos “proibidos”) e, acredite, ganho de
peso! Dietas aumentam as chances de um indivíduo geneticamente predisposto de
desenvolver um transtorno alimentar.
2 – Nos dias de festa, não passe fome ou fique em
jejum!
Esta "estratégia" é um tiro no pé, pois, na
intenção de economizar umas calorias, você provavelmente chegará à ceia com
muita ansiedade, fome e correrá o risco de exagerar, até mesmo mais do que o
planejado! Além disso, não vai ter tempo de mastigar devagar, saborear a
comida, e perceber os sinais de fome e saciedade.
3 – Antes de fazer o prato, olhe todas as opções
da mesa.
Em ocasiões como esta tem comida da tia, da avó, do
pai, do periquito, do papagaio... Lembra do post sobre alimentação no Self Service?
É a mesma coisa. Quando olhamos todas as preparações disponíveis ANTES de
começar a montar o prato, evitamos pegar comida em excesso e faltar espaço para
colocar justo aquela preparação que mais gostamos. Experimente um pouquinho de
cada. Gostou? Repita sua preferida.
4 – Valorize a cultura alimentar da época e da sua
família.
Quando no ano temos a oportunidade de comer peru,
chester, tender, panetone, rabanada, etc, em uma única refeição? Dê uma chance
a você mesmo e valorize tudo de bom que este momento tem a oferecer. E em paz. Além
disso, cada família tem um prato típico que só o avô, a mãe, a bisa sabe fazer.
Uma receita de outro país, outro estado e que não tem receituário, é tudo a
olho, não dá pra explicar! Se você acha que não tem, tente descobrir este ano :)
5 – Desvie o foco da mesa.
Comer é prazeroso e é uma parte importante das
festas, mas não é a única. Quando houver oportunidade circule, converse com pessoas
que não vê há um tempo, saia para ver a noite, os fogos, as luzes, veja a
decoração, dance, brinque com o cachorro...
6 – Não fique com todas as sobras.
Não conhecia esta frase, ouvi pela primeira vez de um
paciente: “o que engorda não é o que a gente come entre o Natal e o ano novo,
mas o que comemos entre o ano novo e o Natal”. Achei muita graça do modo como
ele falou! É normal comer a mais do que estamos acostumados nas festas de final
de ano. Mas para evitar exageros (e até a monotonia), uma boa alternativa e dividir
as sobras com os convidados.
7 – Desencane do dia seguinte.
Fique tranquilo, nosso corpo sabe como lidar com
excessos eventuais e tudo volta ao “normal” sem que você precise passar fome no
dia seguinte, pular refeições ou fazer uma dieta. Assim como é impossível perder em 10 dias os quilos acumulados em 10 anos, também é absurdo ganhar peso de forma significativa em 1 única refeição! Se isto fosse possível eu seria a melhor nutricionista da UTI, por descobrir o fim da caquexia dos pacientes com insuficiência cardíaca, por exemplo...
8 – Tente
descansar.
Alguns estudos mostram que dormir menos de 6h por dia
aumenta a secreção de grelina, um hormônio responsável pela fome e reduz a de
leptina, um hormônio envolvido na saciedade. Além disso o stress de noites mal
dormidas e em relação à alimentação aumenta a liberação de cortisol, que em
longo prazo aumenta o açúcar no sangue e leva ao ganho de peso, sobretudo na
região abdominal.
9 – Respeite o seu corpo.
Não conte
calorias! Ouça seus sinais internos de fome e saciedade, respeite sua vontade, coma
devagar, tente adivinhar os temperos das preparações, perceba as diferenças de
textura, a temperatura dos alimentos e pare de comer quando estiver satisfeito.
10 – Faça planos concretos e possíveis.
Muitas
pessoas procuram o nutricionista com o objetivo de emagrecer. Mas antes de
passar fome achando que assim será bem sucedido ou tentar dietas mirabolantes,
defina melhor seu objetivo. Pense em começar o ano comendo melhor (ao invés de
comer menos), tentando se exercitar mais, encontrar uma atividade que dê prazer
(e não necessariamente aquela que gaste mais calorias), com metas mais
concretas, isto é, não procure ter o corpo de alguém, procure o melhor do seu
próprio corpo!
Feliz Natal e
um excelente, próspero e saudável 2017!
E a pergunta que não quer calar: Coloco ou não passa no arroz?
Posts relacionados: Projeto verão. Só que não., Receita: escondidinho de bacalhau e Receita: lascas de chocolate gourmet.
E a pergunta que não quer calar: Coloco ou não passa no arroz?
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Referências:
1. Polivy J, Zeitlin SB, Herman CP, Beal AL. Food
Restriction and Binge Eating: A Study of Former Prisoners of War 1994;
103(2):409-411.
2. Field
AE et al. Relation Between Dieting and Weight Change Among Preadolescents
and Adolescents. Pediatrics 2003; 112(4):900-906.
3. Pietiläinen
KH, Saarni SE, Kaprio J, Rissanen A. Does dieting make you fat? A
twin study. Int Journ of Obes 2012; 456-464.
4. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e
da Síndrome Metabólica (Abeso). Diretrizes Brasileiras de Obesidade 2009;1-85.
5. Ministério da Saúde. Guia Alimentar Para a
População Brasileira 2014;1-145.
6. Maior AS. Regulação hormonal da ingestão alimentar:
um breve relato. Medicina (Ribeirão Preto) 2012; 45(3): 303-9.
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