Calma, você não entrou no
blog errado, o post não é erótico e
não vim aqui fazer resenha do livro! É que simplesmente falo muito sobre
pensamentos e atitudes dicotômicas e é exatamente deste assunto que vou falar
hoje.
Difícil alguém que nunca
tenha ouvido, depois de um final de semana de fartura, churrasco, pizzada,
festa, a seguinte frase “amanhã (segunda-feira, claro) eu começo o regime!”.
Geralmente é aquela mesma pessoa que ou está sempre “de dieta” ou enfia o pé na
jaca. Outra cena familiar: “eu não podia comer o bombom, mas como eu já comi um
mesmo, vou acabar com a caixa toda!”.
Segundo o dicionário
Aurélio, dicotomia é a divisão de um
conceito em dois elementos em geral contrários.
Trazendo o conceito para a
prática, significa dividir algo complexo, como a alimentação, por exemplo, em 2
simples grupos: o grupo dos alimentos que fazem bem (que emagrecem, que
“esculpem músculos”, diet, light, zero...) e o grupo dos alimentos
que fazem mal (que engordam, causam doenças e até matam!), sem se preocupar com
a quantidade consumida para que o efeito benéfico/deletério ocorra, frequência
que determinados alimentos são consumidos, composição da dieta ao longo do dia,
etc.
Ao contrário do que se
pensa, a dicotomização da alimentação não é nada saudável. Esta divisão é feita
aleatoriamente, com base em crenças, mitos, conceitos distorcidos, além de
atrelar o prazer de comer à culpa.
Pegando o exemplo citado no
início do texto, para aquela pessoa do bombom, o chocolate é um alimento que
foi incluído na lista dos “proibidos” pois em algum momento as calorias,
açúcares e gorduras tornaram-se mais importantes que o desejo e o prazer de
comê-lo. Naturalmente algumas pessoas com algumas doenças precisam reduzir ou
retirar certos alimentos da alimentação e são orientadas por profissionais da
saúde para este fim. Porém, estamos falando aqui de uma pessoa saudável cuja
condição foi autoimposta. Ficará cada vez mais difícil manter a restrição, a
vontade de comer chocolate, que antes era pequena, vira uma vontade grande,
pode desencadear efeitos físicos e psicológicos adversos e isto pode resultar
em um exagero, ou uma compulsão alimentar ou até mesmo levar a um transtorno
alimentar, caso ela tenha predisposição genética.
É o famoso “ou 8 ou 80”, “tudo
ou nada”, “preto ou branco”. Existe aí no meio do caminho entre o preto e o branco
não só 50 tons de cinza (com o perdão do trocadilho!), mas muitas nuances de
cinza, uma gama de possibilidades!
O que quero dizer com tudo
isso é: nenhum alimento sozinho é culpado de provocar um resultado, seja ele
excelente ou catastrófico. Tudo depende da alimentação como um todo. É muito
mais fácil voltar a alimentação habitual quando aceitamos que existem desvios. As
pessoas saudáveis devem entender que é ok comer um pouco a mais porque o jantar
estava particularmente gostoso. Que é interessante experimentar algo “único”
(ao invés de “engordativo”), sem neura, numa viagem a um país de cultura
diferente à nossa. Normal também é dizer não ao que a gente gosta de vez em
quando simplesmente porque estamos satisfeitos ou não estamos afim. É entender
que tudo, nas suas devidas porções e frequência, têm um lugar no conceito de
alimentação saudável.
Eu ainda experimento um kürtöskalács!... (pão doce típico da Hungria) |
O velho caminho do meio...
Referência:
Ferreira, ABH. Miniaurélio:
o minidicionário da língua portuguesa. 7 ed. Curitiba: Ed. Positivo; 2008.
Dicotomia; p. 317.
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