Eu juro que tenho uma síncope toda vez
que ouço um nutricionista falando isso! Não porque eu seja a favor do livre consumo
de sucos (como já publiquei aqui), mas simplesmente porque este não é argumento
de quem tem ensino superior em nutrição. Seria a mesma coisa que eu dissesse que a maneira
mais natural de consumir carnes fosse crua, com pele e pêlos, penas ou escamas!
É a mais natural, é a maneira como os predadores consomem suas presas na natureza,
mas não é o modo como a maioria de nós, seres humanos, estamos culturalmente habituados
a ingerir carnes.
Estamos inseridos em um ambiente
obesogênico, inundado de alimentos (ou produtos) ultraprocessados ricos em
sódio, açúcar, farinha refinada, gorduras trans, conservantes, aromatizantes,
estabilizantes 24 horas por dia à nossa disposição, inclusive em locais não
destinados ao comércio de gêneros alimentícios (postos de gasolina, por
exemplo). “Sucos” com uma vasta lista de ingredientes e com nomes
impronunciáveis estão nesta categoria. Certamente não são estes os que nós,
nutricionistas, nos referimos ao dizer “suco” e, neste quesito, a mensagem que o
novo guia alimentar para a população brasileira deixou foi muito clara: devemos
desembrulhar menos e descascar mais.
Evoluímos a ponto de testar e inventar novas técnicas culinárias, formas de cocção, apresentação, combinações entre
alimentos, cores, texturas… Consumimos carnes cruas, cozidas, assadas,
grelhadas, moídas, picadas, em tiras, em cubos, com ou sem molho. Seguindo este
raciocínio, é possível consumir verduras e legumes de diversas formas. E
adivinha só: frutas também! Estes são apenas alguns exemplos de técnicas utilizadas nos pratos do restaurante espanhol "El Celler de Can Roca", com fila de espera de mais de 1 ano:
Traduzindo do “nutricionês” para o
português, a questão envolvendo o suco é que, ao ingerir um suco natural de
frutas, ingerimos muitas frutas (e às vezes só de 1 tipo de fruta) de uma só vez, muito
carboidrato (açúcar da fruta ou de adição) de uma só vez, e retiramos suas
fibras, tão importantes para a saciedade, exercício dos músculos envolvidos na mastigação,
controle glicêmico, controle do colesterol e regulação do intestino. Por estas
razões preconizamos o consumo da fruta in
natura.
Referência:
Ministério da Saúde. Guia Alimentar
Para a População Brasileira 2014;1-145.
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