quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Mito ou verdade? Suplementos alimentares (multivitamínicos) podem substituir uma alimentação saudável?




Já ouvi muitas vezes a pergunta “Eu não gosto muito de verduras, legumes e frutas, posso tomar um multivitamínico?” ou afirmações do tipo “Não sei se o que eu como supre minhas necessidades, então tomo suplemento”, “na dúvida eu tomo, mal não faz”...

Será que podemos substituir a alimentação por cápsulas?
Será que precisamos delas?
E será que mal não faz?


Frutas, verduras e legumes são ricas em vitaminas e minerais, correto? Logo, se há um baixo consumo dos mesmos, a reposição destes componentes parece muito lógica. Mas e as fibras? Deixar de consumir estes alimentos é deixar de incluir grande quantidade de água e fibras alimentares, importantíssimas para o bom funcionamento do intestino. As fibras também controlam o açúcar no sangue e auxiliam na redução do colesterol. Outra questão é a da saciedade – comer quantidades adequadas de frutas, verduras e legumes fornecem poucas calorias e conferem saciedade, importante no controle do peso. “Então vamos suplementar fibras também!” – Não inventa moda!

 
Este assunto foi muito discutido há pouco com a última edição do “Annals of Internal Medicine”, de dezembro do ano passado, intitulado “Enough is enough” (“Já chega!” em tradução livre). Nele, basicamente 3 estudos recentes foram discutidos: O primeiro mostrou que multivitamínicos não previnem câncer, doenças cardiovasculares e não reduzem a mortalidade. O segundo estudo, com 6000 homens acima de 65 anos, acompanhados por 12 anos, mostrou que a suplementação com vitaminas não mostrou melhora no desempenho cognitivo. E o terceiro estudo, de Lamas et. al., mostrou que a suplementação com vitaminas e minerais não previne eventos cardiovasculares em indivíduos que já haviam infartado.

O editorial também discute outros pontos do uso indiscriminado de multivitamínicos e recomendam que estes sejam evitados, uma vez que seus efeitos são nulos ou prejudiciais. A suplementação de vitaminas do complexo B, por exemplo, não surte efeito algum. O excesso nós eliminamos pela urina e isto significa jogar dinheiro literalmente pelo vaso sanitário! Já as vitaminas A e E em excesso podem ser tóxicas e aumentar a mortalidade e os riscos de desenvolvimento de câncer. Ou seja... Não existe aquela conversa de que “mal não faz”.

 
E essas descobertas não são novidade. Lembro que meu professor de bioquímica da faculdade, o Bayardo Torres, já falava de um estudo de 1985, da Finlândia, que mostrou que os fumantes que receberam vitamina A tiveram maiores incidências de câncer de pulmão.

Uma vez que já falamos dos riscos e até citei um exemplo de como jogar dinheiro “fora”, outra questão importante é a da biodisponibilidade de nutrientes. Apesar do palavrão é simples: comer um alimento, ingerir um nutriente não é garantia de que iremos absorver tudo ou a quantidade suficiente. De nada adianta ingerir um monte de vitaminas e minerais se eles competem entre si por absorção! Os minerais cobre, zinco, ferro e molibdênio, por exemplo, competem por absorção. A vitamina C auxilia a absorção do ferro mas atrapalha a do cobre. Olhando por esse ângulo tomar uma cápsula com um monte de coisas já não parece tão interessante, não é mesmo?

“Mas quando Fulano ficou internado prescreveram multivitamínicos pra ele”. Isto é um caso isolado. Trata-se de uma pessoa doente com uma ingestão ou absorção ineficiente de nutrientes e que precisa de uma correção imediata. Isto é diferente de automedicação e não se aplica para pessoas saudáveis. O melhor caminho é a mudança dos hábitos alimentares.

Referências:

1. Fortmann SP, Burda BU, Senger CA, Lin JS, Whitlock EP. Vitamin and mineral supplements in the primary prevention of cardiovascular disease and cancer: an updated systematic evidence review for the U.S. Preventive Services Task Force. Ann Intern Med. 2013; 159:824-34.

2. Grodstein F, O'Brien J, Kang JH, Dushkes R, Cook NR, Okereke O, et al. Long-term multivitamin supplementation and cognitive function in men. A randomized trial. Ann Intern Med. 2013; 159:806-14.

3. Lamas GA, Boineau R, Goertz C, Mark DB, Rosenberg Y, Stylianou M, et al, TACT (Trial to Assess Chelation Therapy) Investigators. Oral high-dose multivitamins and minerals after myocardial infarction. A randomized trial. Ann Intern Med. 2013; 159:797-804.

4. Okigami H. Competição de nutrientes: um breve comentário sobre suplementos alimentares [Internet]. Disponível em: http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/74/15.pdf

5 comentários:

  1. Tem casos que eles são a única opção! Minha filha, que tem 14 anos, não come carne e nem ovo desde criança e o suplemento faz parte da rotina dela, como uma das poucas fontes de proteína. O suplemento receitado pela nutricionista dela foi o Nutren Active e fora ele ela, ainda, toma leite e come apenas um tipo de queijo.

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    1. Olá, Bel!
      Obrigada pela sua opinião!

      O nutricionista deve analisar cada caso em particular e prescrever o que é melhor. Como a alimentação da sua filha é deficiente em nutrientes específicos, a nutricionista dela julgou necessário este tipo de suplemento, o Nutren.

      Sou contra apenas o uso indiscriminado de suplementos para a população saudável em geral, e nos casos em que o suplemento reforçaria a aversão a certos tipos de alimentos. É sempre bom encorajar, quando possível, o consumo de alimentos e variar sua forma de preparo e apresentação.

      Abraço,

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  2. Eu detesto verduras e alguns legumes!! Não consigo comer, sinto vontade de vomitar! Frutas eu como muito bem, o gosto do leite também me dá vontade de vomitar mas eu tomo vários tipos de danone e geralmente com aveia e algumas frutas... O problema é que me preocupo pois não consumo alimentos com vitaminas... Eu já pensei em tomar algum complemento pois eu não estarei substituindo nada já que eu não como antes de começar a tomar... Eu queria saber se eles funcionam e fazem o que prometem, eu sei que não devemos deixar os alimentos mas pelo menos algumas vitaminas pois sei que preciso...

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    1. O primeiro caminho é sempre a alimentação.

      Você disse que detesta verduras e ALGUNS legumes... Significa que não descarta todos. Sugiro variar o modo de preparo destes alimentos, não existe só verduras e legumes crus, cozidos ou refogados, dá pra fazer bolos, sucos, tortas, gratinados, no forno, na pizza, junto com recheio de panqueca, sanduíches, arroz, carnes... E você come frutas, laticínios, cereais e outros alimentos que contém vitaminas e minerais.

      Minha segunda e última sugestão é: procure um nutricionista e/ou médico. Ás vezes pensamos que nossa alimentação é pior ou melhor do que realmente é. Faça exames de sangue e faça uma avaliação da sua alimentação. Só assim você descobre se é necessário suplementar ou não. Se sim, sou a favor da suplementação pontual de nutrientes (específicos), mas depende da conduta de cada profissional.

      Abraço.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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