Casamento é a união entre
partes e se difere em várias circunstâncias. Mas não vim me manifestar a favor
ou elucubrar se é uma instituição falida. Tampouco vim falar da união entre
pessoas. Continuo falando de alimentos. De casamentos entre alimentos que deram
muito certo!
Com os alimentos podemos
fazer infinitas combinações. E as escolhas ainda podem variar de acordo com o
indivíduo, lugar, humor... Podemos combinar diferentes cores no prato, a
seleção de alimentos pode refletir uma nação, pode ser feita por convenção,
praticidade, gosto.
Certo dia alguém resolveu
juntar salgado com doce, queijo com goiabada, e surgiu um (ou outro) clássico,
“Romeu e Julieta”. Se no final de Shakespeare não tiveram sorte, gastronomicamente
falando o final foi feliz!
Já que podemos falar de
“casamentos” partindo de muitos pontos de vista, hoje vou mostrar 4 combinações
que, além de saborosas, são muito nutritivas!
1
– Arroz com feijão
Vamos começar pela paixão
nacional! Quem nunca ouviu que o arroz com o feijão formam um par perfeito?
Essa fama se dá pela composição proteica. Vamos entender:
Imagine que a proteína é uma
parede. Os tijolos que formam essa parede são os aminoácidos. Ao todo existem
20 tipos de tijolos, ou seja, 20 aminoácidos. Dependendo de quais, quantos e
sequência de tijolos (aminoácidos) são utilizados, temos como resultado paredes
(proteínas) diferentes.
Dos 20 aminoácidos
existentes, nosso corpo consegue produzir (sozinho ou com precursores) apenas 11.
Os outros 9 devem ser adquiridos através da alimentação, são os essenciais (E).
É como se uma alimentação desequilibrada resultasse não em uma parede, mas em
um muro cheio de buracos... Sem todos os aminoácidos não conseguimos fazer todas
as proteínas necessárias ao bom funcionamento do corpo.
Ok, e onde entram o arroz e
o feijão?
A proteína do arroz, assim
como dos demais cereais, é pobre em lisina (E) mas é fonte de outros
aminoácidos como metionina e cisteína. Já a proteína do feijão, assim como das
demais leguminosas, é pobre em metionina (E) e cisteína e rica em lisina. Oh,
que coincidência!
A combinação ainda é rica em
fibras, que auxiliam na manutenção de um peso adequado por conferir saciedade e
reduzem o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes e câncer de
cólon por regularem os níveis de colesterol, açúcar e a função intestinal,
respectivamente.
Além de saborosa, a mistura
é nutritiva – mais um motivo para não riscar esta dupla do cardápio!
2
– Alimentos ricos em ferro e vitamina C
Outro prato muito apreciado
é a feijoada. A tradicional consiste em uma combinação de arroz, feijão preto,
carnes variadas, farofa, couve e laranja. Além de deliciosa, é nutricionalmente
interessante: o ferro (das carnes, feijões e vegetais verdes escuros) é melhor
absorvido na presença da vitamina C (da laranja e das outras frutas cítricas em
geral).
Veja mais exemplos de
alimentos ricos em ferro e alimentos ricos em vitamina C:
Ferro
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Carnes (bovina, suína, peixe, frango), fígado, ovos, leguminosas
(feijões, lentilha, ervilha, grão de bico), tofu, vegetais verde escuros
(couve, agrião, espinafre), frutas secas (damasco, ameixa, uva passa),
castanhas, semente de abóbora e cereais enriquecidos com ferro.
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Vitamina C
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Frutas
(laranja, limão, tangerina, abacaxi, acerola, morango, goiaba, caju, kiwi,
manga, mamão, tomate) e hortaliças (pimentão, couve, brócolis, agrião,
rúcula).
|
Portanto você não precisa
comer necessariamente uma feijoada para obter os benefícios. Uma ótima ideia é
finalizar uma refeição rica em ferro, como almoço ou jantar, com uma fruta ou
suco natural de fruta que seja rica em vitamina C.
Esta prática pode prevenir a
anemia por deficiência de ferro, a mais comum das deficiências nutricionais,
cujos principais sintomas são fadiga generalizada, perda de apetite, apatia e
dificuldade de aprendizagem.
3
– Alimentos ricos em cálcio e vitamina D
Todo mundo sabe que o cálcio
é muito importante para os ossos e que sua deficiência pode levar à osteopenia
e/ou à osteoporose, certo? No entanto, de nada adianta consumir alimentos ricos
em cálcio, como o leite e seus derivados, sem a presença da vitamina D.
A vitamina D aumenta a
absorção de cálcio no intestino, ajuda a fixar o cálcio nos ossos e previne a
formação de pedras nos rins. A falta de vitamina D provoca retardo na formação
e crescimento dos ossos e cartilagens, causando raquitismo, em crianças, e
osteomalácia, em adultos. Conseguimos a vitamina através da exposição ao sol e
através de alguns alimentos:
Cálcio
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Leites, queijos, iogurtes, soja, tofu, sardinha, hortaliças verde escuras
(couve, folha de mostarda, brócolis).
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Vitamina D
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Manteiga, nata,
gema de ovo, fígado e óleo de fígado de peixe.
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Sugiro deixar esta dupla,
sobretudo leites, queijos, iogurtes e manteiga para o café da manhã e/ou para
os intervalos (lanches). Por que não no almoço e/ou jantar? Cenas dos próximos
capítulos...
4
– Óleos/Gorduras e alimentos ricos em vitaminas A, D, E e K
Você deve achar que gordura
não serve pra nada, certo? Na verdade serve: pra infartar pessoas ou para
engordá-las! Com tamanha lipofobia eu nem me espantaria...
Já falei aqui que existem
diferenças entre as gorduras. Algumas, as saturadas e trans, em excesso, podem
sim levar a doenças cardiovasculares enquanto outras, as mono e
poli-insaturadas, podem prevenir. No entanto, consumidas com moderação cabem perfeitamente numa alimentação saudável.
Com relação às calorias,
realmente as gorduras são as que fornecem mais calorias por grama (9 Kcal/g),
enquanto carboidratos e proteínas fornecem 4 Kcal/g e o álcool 7 Kcal/g. Mas, no fim, o que determina ganho, perda ou
manutenção de peso é o quanto ingerimos no total e quanto gastamos (além de
outros fatores também já discutidos aqui).
A gordura participa de
diversas funções corporais como produção de hormônios, proteção contra choques
externos, proteção de ossos e articulações da pressão mecânica (de suporte ao
ficar em pé, por exemplo), manutenção da temperatura corporal e participa da
estrutura das nossas células. Além disso, realça o sabor dos alimentos e ainda
ajudam na absorção das vitaminas A, D, E e K! Os alimentos fonte de vitamina D
estão no esquema anterior. Os demais são:
Vitamina A
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Frutas e legumes de cor amarelo-alaranjada e vermelhos (mamão, manga,
damasco, tomate, abóbora, cenoura, pimentão) e vegetais folhosos de cor verde
escura (couve, espinafre, agrião), fígado, ovos, batata doce, creme de leite
e queijos.
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Vitamina E
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Óleos,
azeites, manteiga, sementes (linhaça, girassol), castanhas (amêndoas, nozes, avelã, pistache, castanha do Pará...), ovos, fígado, cereais e vegetais de
folhas verdes (brócolis, espinafre, acelga, aspargo).
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Vitamina K
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Folhas verde
escuras (brócolis, repolho, couve, alface), nabo, fígado e ovos.
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Mais um prato muito
apreciado pelo brasileiro: a tradicional macarronada de domingo. O que tem de
tão especial além do sabor? O molho de tomate feito no azeite nada mais é do
que uma ilustração prática do quadro acima: um alimento fonte de vitamina A
(tomate) com um óleo que também é fonte de vitamina E (azeite de oliva)!
Um outro fato interessante é
que, ao ser aquecido, o licopeno (vitamina A) do tomate consegue ser melhor
aproveitado pelo nosso organismo.
Precisa decorar tudo isso? É
claro que não!
O intuito é mostrar que
conseguimos aproveitar melhor os nutrientes combinando-os melhor.
Se adotarmos uma alimentação
variada, colorida, flexível, com mais “comida” e menos produtos
ultraprocessados é possível e provável que sua saúde vá muito
bem, obrigada! E, por fim, ainda aprendemos a evitar deficiências nutricionais com
combinações entre alimentos que estão logo ali, na feira.
Referências:
Mahan LK, Escott-Stump S.
Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 11ª ed. São Paulo: Roca; 2005.
Oi Thaís, apenas queria dizer que gosto muito das suas postagens. Acho que você aborda com leveza os temas e os torna bem explicativos para o leitor, PARABÉNS!
ResponderExcluirObrigada, Carol!
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