quinta-feira, 16 de maio de 2013

Comendo fora de casa: E agora? Buffet/Quilo/Self Service



Esse é o primeiro post de uma sequência que pretende orientar e ajudar você a fazer as melhores escolhas para a sua saúde quando o assunto é comida fora de casa.

Uma pesquisa realizada em 2011 mostrou que cerca de 65,3% dos brasileiros alimentam-se cotidianamente fora de casa, e essa estatística gera motivo de sobra para dúvidas: onde/o que/quanto devo/posso/quero comer?

Não custa nada repetir que não existe certo e errado, alimento bom (“do bem”) ou ruim (“do mal”). O que importa é a quantidade e frequência com que consumimos ou deixamos de consumir determinados alimentos. O texto também não leva em consideração a vontade do leitor (ora, se o dia pede peixe, vá de peixe!), mas procura direcionar as escolhas para aqueles que precisam se alimentar fora de casa com frequência e se preocupam com a saúde.

Os restaurantes que oferecem buffet por peso podem ser uma ótima opção, pois oferecem grande variedade de preparações.

Dica 1: Planejamento. Ainda antes de pegar o prato, olhe todas as preparações, quentes e frias. Isso evita que você pegue muitos alimentos do mesmo grupo, semelhantes (tipo arroz, batata e macarrão) e evita exageros.


Dica 2: Comece pelas verduras e legumes. Preencha 50% (metade) do seu prato com salada de folhas variadas e legumes crus ou cozidos. Esses alimentos contém vitaminas e minerais, importantes para a manutenção da saúde e prevenção de doenças, fibras, que dão saciedade, e poucas calorias. Assim você come um volume maior de alimentos, não sente fome e ainda não extrapola no valor energético da refeição.


Dica 3: Preencha ¼ do prato (a metade da metade que sobrou) com alimentos fonte de carboidratos (arroz, macarrão, batata, mandioca, milho). Dê preferência aos integrais. Prefira as preparações assadas, cozidas, molho vermelho e evite frituras, molho branco e preparações gratinadas.

Dica 4: Complete o prato (o último ¼ restante) com os alimentos fonte de proteínas vegetais e animais. Dos vegetais temos os feijões, ervilha, grão de bico, soja e dos animais, os ovos e as carnes (boi, frango, peixe, porco). Prefira as carnes magras e sem a capa de gordura e/ou sem a pele. Evite as preparações fritas, à parmegiana e gratinadas.

Fonte: Meu Prato Saudável

Fonte: Meu Prato Saudável

Fonte: Meu Prato Saudável

Dica 5: Deixe a sobremesa pra depois. Muitos restaurantes colocam as sobremesas antes dos pratos salgados, o que é uma tentação, uma vez que estamos famintos, ávidos por energia. Faça seu prato, mastigue devagar. Caso deseje, volte para buscar a sobremesa. Dê preferência a frutas ou salada de frutas. Se a vontade de comer um doce for maior, saboreie sua sobremesa! Pessoas saudáveis podem comer uma porção de doce por dia. Prefira os pedaços menores, caso já venham cortado, divida com alguém, ou opte por embalagens individuais que geralmente ficam perto da saída ou do caixa (bombom, tabletes de 4 quadradinhos de chocolate), etc.


Referência:

CRN3. Alimentação fora do lar. Revista do Conselho Regional de Nutricionistas [periódico na Internet]. 2012 Jun [acesso em 2013 maio 16]; ano 2(3):[aproximadamente 5 p.]. Disponível em http://www.crn3.org.br/atualidades/revistas/arquivos/crn3_03.pdf

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Diet X Light: você sabe a diferença?


Essa é uma das dúvidas mais frequentes dos pacientes em consultório e de muitos consumidores que já se aventuraram pelos corredores de um supermercado. São tantas opções, tanta variedade, tabelas nutricionais, rótulos, tantos nomes...

Com objetivo de seguir uma alimentação mais saudável, ou perder peso, muitas pessoas optam pelo consumo de alimentos diet e light. Será que eles são realmente a melhor opção?

As informações a seguir são da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), responsável pela regulamentação destes produtos.

Alimentos DIET

O que são?
São alimentos isentos de algum nutriente, como por exemplo carboidratos (açúcar), proteínas (glúten), gorduras, sódio, entre outros.

Para quem são destinados?
Quem realmente precisa consumir estes produtos são pessoas com condições metabólicas específicas, que necessitam de alimentos que eliminem ou substituam o nutriente ao qual o indivíduo tenha alergia, intolerância ou restrição de consumo, como por exemplo um indivíduo diabético, cujo consumo de açúcares deve ser limitado.
Indivíduos saudáveis também podem consumir estes produtos, desde que seja dentro do contexto de uma alimentação equilibrada e bem planejada.

Como identificá-los?
Você pode encontrar estes produtos com a seguinte nomenclatura: “diet”, “zero”, “0%”, “isento” e “Consumir preferencialmente sob orientação de nutricionista ou médico”.

Sempre são a melhor opção?
Para quem não pode consumir algum nutriente, por motivo de saúde, sem dúvida é a melhor (e às vezes a única!) opção. Para a população saudável é uma questão de decisão pessoal ou de orientação de algum profissional. Neste caso, fique atento à tabela nutricional: nem sempre um alimento diet tem menos calorias!

Exemplos:

1 - Refrigerante tradicional X diet

 
Refrigerante tradicional


Refrigerante diet

 
As porções comparadas são idênticas (350ml). Como a tabela nutricional sugere, a diferença entre o refrigerante tradicional e o diet é a retirada total do açúcar (carboidratos), que acaba refletindo no valor calórico, uma vez que os carboidratos, assim como as gorduras e proteínas, fornecem calorias. Se o único nutriente do produto que fornecia calorias foi retirado, o diet portanto não apresenta calorias na porção.

O refrigerante diet está disponível com o nome “zero” e “light” também, o que deixa o consumidor ainda mais confuso. Todos eles são isentos de açúcar, são diet. A mudança de nome é estratégia de marketing para atingir diferentes públicos com produtos tão parecidos (muitas vezes a diferença é apenas o(s) tipo(s) de adoçante(s) da fórmula).

2 – Chocolate meio amargo tradicional X Chocolate meio amargo diet


Chocolate meio amargo tradicional

Chocolate meio amargo diet


Aí tem uma “pegadinha”... As tabelas não representam a mesma quantidade de produto! A porção de chocolate tradicional é de 25 g e a do diet é 22 g. Mesmo assim, o que o caracteriza como produto diet é a ausência de açúcar.

É importante salientar que muitas vezes diet não significa necessariamente menos calorias ou que o produto seja ”melhor”, “mais saudável”. Para que o chocolate diet tenha consistência semelhante ao tradicional, é necessário adicionar gordura. Se a porção do diet fosse do tamanho da do tradicional (25 g), haveria 8,6 g de gorduras totais e 4,6 g de gorduras saturadas! Para um diabético com vontade de comer chocolate, está é sua única opção, mas para um indivíduo que não tenha diabetes, a melhor opção seria o tradicional.

Alimentos LIGHT

O que são?
São alimentos com redução de pelo menos 25% em algum nutriente e/ou valor energético (calorias) quando comparados com a versão original.
A redução das calorias é resultado da redução de gorduras e/ou carboidratos e/ou proteínas do alimento. Já os produtos com redução de outros nutrientes, como por exemplo sódio, não apresentam redução de calorias (porque sódio não fornece calorias).

Para quem são destinados?
Para quem procura reduzir as calorias da alimentação, consumir menos gorduras, sódio, ou seja, para quem busca a redução de algum nutriente em relação à versão tradicional do produto, seja para redução do peso, do colesterol, da pressão arterial, etc.

Como identificá-los?
Você pode encontrar estes produtos com a seguinte nomenclatura: “light”, “redução”, “% menos”.

Sempre são a melhor opção?
De nada adianta consumir os produtos light, quando apresentam redução de calorias, para “poder comer mais”! Eles representam a mesma porção do produto convencional.

Para emagrecimento, eu particularmente acredito que não compensa sair comprando todos os produtos light, a não ser que a redução dos nutrientes e/ou calorias seja significativa (realmente superior aos 25%) e que o sabor do produto seja saboroso. De nada adianta comprar um produto light com quase as mesmas calorias do original e com gosto de serragem, de papelão! O consumo de alimentos saborosos, nas quantidades e porções compatíveis com as necessidades de cada um, é o caminho para obter um peso compatível com a saúde.

Exemplos:

1 – Queijo cremoso normal x Queijo cremoso light

A tabela a seguir refere-se a porções de 30 g dos produtos

Queijo cremoso tradicional e light


O queijo cremoso apresenta redução de 53% de gorduras totais, redução de 55% de gorduras saturadas e 100% de trans. Como gordura tem calorias, a redução destes teores reduziu as calorias em 39%. Todos os valores são superiores a 25%, portanto o produto é light.

Em laticínios, é comum que a redução de gorduras seja compensada com a adição de sódio, para atingir a consistência semelhante à do produto natural. Se você tem pressão alta, tome cuidado, leia sempre o rótulo.

2 – Molho de soja tradicional X Molho de soja light

As tabelas referem-se a porções de 15 g (1 colher de sopa) dos produtos




As porções comparadas também são idênticas (15g). O molho de soja é light em relação ao sódio: a redução de foi de 855 mg para 585 mg, o que representa 31,6% menos sódio, o que ainda é bastante, uma vez que a recomendação é de 1600 a 2400 mg de sódio por dia*. A redução é superior a 25%, portanto o produto é light.

O produto poderia ser diet se considerássemos os carboidratos, proteínas e calorias, não poderia? Sim, uma vez que o produto na versão light apresenta 0 Kcal e 0 g de carboidratos e proteínas. Porém, o nutriente presente em maior quantidade no produto é o sódio, por isso a redução deste é mais significativa em relação ao impacto na saúde. O consumo elevado de sódio está relacionado a pressão alta e problemas cardiovasculares.

*Nota: 1600 – 2400 mg de sódio representam aproximadamente de 5 a 6 g de sal por dia.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Que confusão, hein, Gwyneth! Deve ser a falta de carboidratos...



Gwyneth Paltrow


Mais um capítulo envolvendo os carboidratos por aqui...

Há algumas semanas, li uma matéria que gerou muita polêmica: a atriz norte-americana Gwyneth Paltrow, conhecida também por seguir dietas restritivas, decidiu cortar os carboidratos da dieta de seus filhos Apple, 8 anos, e Moses, 7 anos.

Para mim, a notícia gerou indignação. Não só pelo modo como foi anunciada, mas também pela série de fatos que não procedem, que não fazem o menor sentido.

O primeiro deles é a postura radical por si só. Seguir dietas restritivas, sendo certo ou errado, é uma opção dela, mas extrapolar isso para os filhos, já é demais!

Durante a infância, a ingestão de carboidratos deve ser de aproximadamente 5g/kg/dia para evitar a hipoglicemia (queda de açúcar no sangue) e cetose (formação de substâncias potencialmente tóxicas e prejudiciais ao cérebro que ocorre na ausência de carboidratos por longos períodos).

Isto significa que, uma criança de 20 kg, por exemplo, deve consumir cerca de 100 gramas de carboidratos por dia. Só para vocês terem uma ideia, pensando apenas nos alimentos fonte de carboidratos, esta criança poderia comer, por exemplo, 1 fatia de pão de forma + 1 banana + 4 colheres de sopa de arroz + 1 laranja + 4 biscoitos doces sem recheio + 1 escumadeira pequena de macarrão + 1 maçã ao longo do dia e ainda sobrariam alguns gramas de carboidratos para distribuir entre os outros grupos de alimentos que contém carboidratos mas que não são considerados fonte, como por exemplo laticínios, feijões, dentre outros.

Muitos jornalistas (e profissionais da saúde) rebateram a notícia dizendo que seus filhos nem tem excesso de peso para que a atriz tomasse essa decisão. Como se crianças obesas fossem “tratadas” com dietas restritivas. Adultos saudáveis não deveriam retirar nenhum tipo de alimento da dieta. Imagina uma criança em fase de crescimento e desenvolvimento!
Na matéria, Gwyneth ainda afirmou que a falta de carboidratos gera “acessos nervosos na família” e que seus filhos “passam fome”. Dietas restritivas deixam qualquer um mal-humorado e vou além: aumentam os riscos de desenvolver um transtorno alimentar em indivíduos geneticamente suscetíveis, podem desencadear compulsões alimentares e promover ganho de peso.

Ela ainda afirmou que "todo nutricionista, médico ou pessoa consciente que eu já conheci... Todos parecem concordar que glúten faz mal”. Que nutricionista consciente é esse que permite que um paciente passe fome? Desculpa, mas acho melhor você procurar outro especialista.

Eu também estaria muito chateada...

A atriz alegou que seu marido, as crianças e ela mesa são alérgicos a glúten. Glúten é uma proteína encontrada na semente de alguns cereais como trigo, cevada, triticale, centeio, aveia e malte (subproduto da cevada). A intolerância ao glúten chama-se doença celíaca. Neste caso, glúten faz mal mesmo. Essas pessoas têm uma doença e portanto precisam e devem excluir todos os alimentos que contém glúten da dieta, mas não todos os alimentos fonte de carboidratos! Arroz, batata, milho, mandioca, cará, inhame, araruta, sagu e trigo sarraceno devem ser incluídos na alimentação como fonte de energia.

trigo: proibido na doença celíaca
cevada: proibido na doença celíaca
triticale: proibido na doença celíaca
centeio: proibido na doença celíaca
aveia: proibido na doença celíaca

malte: proibido na doença celíaca

cará: permitido

inhame: permitido
araruta: permitido

trigo sarraceno: permitido
 
Gwyneth recentemente rebateu as críticas com a afirmação “mas eles comem Oreos também, são crianças normais”. Oreo é um biscoito recheado muito popular nos Estados Unidos. Qualquer ser pensante consegue desvendar esta “charada”: Oreos contém farinha de trigo. Logo... OREOS CONTÉM GLÚTEN!  E os filhos dela não eram alérgicos?

Fragmento da embalagem do biscoito recheado Oreo. Informações em destaque (vermelho): "enriched flour"(farinha enriquecida) e "wheat flour" (farinha de trigo)

Certamente não foram cortados todos os carboidratos da dieta das crianças. Isto está me cheirando radicalismo mesmo...

Referências:


Heird WC, Cooper A. Infância. In: Shils ME et al. Nutrição moderna na saúde e na doença. 2ª ed. Barueri, SP: Manole; 2009. p.855-877.

Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO) [base de dados na Internet]. Campinas: UNICAMP. [acesso em 2013 maio 2]. Disponível em: http://www.unicamp.br/nepa/taco/tabela.php?ativo=tabela.

Pinheiro ABV et al. Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras. 5ª ed. São Paulo: Atheneu; 2008.


Field AE et al. Relation Between Dieting and Weight Change Among Preadolescents and Adolescents. Pediatrics; 2003 [acesso em 2013 maio 2]. Disponível em: http://pediatrics.aappublications.org/content/112/4/900.abstract.

Associação dos Celíacos do Brasil (ACELBRA) [internet]. [acesso em 2013 maio 2]. Disponível em: http://www.acelbra.org.br/2004/alimentos.php.