quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SOS Hollywood


Bom dia pra você também!

Vamos começar com esta pérola. E vamos dividi-la em partes:

I. “eu me mataria se fosse gorda”.

Tentei formular diversas ideias para esta parte. Apaguei todas. Não consigo elaborar uma linha de raciocínio. Só senti um vazio. Pensei em perspectiva de vida, ideais, anseios, laços afetivos, pessoas, prazeres da vida, músicas, momentos, lugares, atividades, e em todas as outras coisas que nos faz querer estar vivo!

Pior é que ela não está sozinha. Segundo um levantamento feito nos Estados Unidos, 54% das mulheres entre 18 e 25 anos preferiam ser atropeladas por um caminhão a ser gordas.

Triste.

II. “gorda como a Marilyn Monroe”.

Um momentinho... Será que estamos falando da mesma Marilyn?


Marilyn Monroe media 1,67 m e, durante sua carreira, seu peso oscilou entre 53 e 63 kg, que resulta num IMC (índice de massa corporal) igual a 19,0 kg/m² e 22,6 kg/m², respectivamente. Pois bem... A faixa de IMC considerada “adequada” vai de 18,5 a 24,9 kg/m², o que significa que Marilyn tinha um peso ADEQUADO! Ela nunca foi gorda! O problema é justamente achar que o normal é excessivo e que o desnutrido é “normal” (e toda aquela velha discussão sobre beleza).

Em tempos onde a magreza é supervalorizada (e perseguida!), a anorexia nervosa tornou-se um transtorno alimentar socialmente aceito. Todo mundo parece querer ser magro a todo custo, e pagam caro por isso. No entanto, ao contrário da glamourização difundida pelas redes sociais, a anorexia nervosa é uma doença psiquiátrica, NÃO um estilo de vida.

Estudos recentes em psiquiatria apontam que a anorexia nervosa é a doença psiquiátrica mais letal. A anorexia mata 2 vezes mais do que a esquizofrenia, 3 vezes mais do que o transtorno afetivo bipolar, 4 vezes mais que a depressão grave e 6 vezes mais do que as outras doenças psiquiátricas. A mortalidade em mulheres com anorexia é 12 vezes maior do que a observada na população saudável quando comparamos a mesma faixa etária.

Comer pouco é visto com bons olhos, é sinônimo de sucesso, de autocontrole. No último fim de semana tive a oportunidade de assistir ao filme “Fargo”. A personagem de destaque, Marge (Frances McDormand), uma policial grávida na gélida Minneapolis, certamente atrairia comentários no mínimo espantosos pelos tamanhos dos pratos que ela naturalmente degustava. Outro filme que retrata a comida sob uma ótica até digamos erotizada é o “Azul é a cor mais quente”. Meio a tantos jantares em família, entre amigos, massas, ostras, doces, vinhos não houve um personagem sequer que tenha dito “comendo assim vou virar uma bola”, “gordice”, “segunda eu começo” ou “amanhã vou queimar tudo isso na academia”! Também, quisera, o filme é francês! E um “segredinho”: fazer jejum ou atividade física com a única e exclusiva finalidade de tentar se livrar dos “excessos da alimentação” são comportamentos inadequados denominados purgação. É uma relação disfuncional com a comida que precisa ser revista...

Também não se trata de “defender” a obesidade ou “atacar” a magreza. Ao bom entendedor acredito que isto já esteja claro. Assim como existem pessoas naturalmente magras (com baixo peso), existem pessoas acima do peso considerado ideal que se preocupam com a alimentação e que são fisicamente ativas. Eu me preocupo com saúde/doença, não com forma de corpo.


Sabemos que a obesidade pode levar a inúmeros problemas à saúde e devemos tratar os casos individualmente, respeitando suas particularidades. Sabe-se também que uma redução de 5 a 10% do peso e a manutenção deste novo peso já é suficiente para melhorar a pressão arterial, a glicemia (açúcar no sangue) e reduzir as chances de infarto. O problema está no pensamento de que o obeso deve, a qualquer custo, ser “emagrecido” (emagrecido num padrão sociocultural aceitável).

Todo mundo está cansado de saber que a obesidade é doença e traz prejuízos à saúde. O problema é que mantém transtornos alimentares velados e os pensamentos e atitudes disfuncionais sob o rótulo “saudável”. Sentir culpa não é saudável. Purgar não é saudável.

Não estamos imunes à insatisfação corporal. O problema é viver (ou deixar de viver) em função disto.



Referências:

Philippi ST, Alvarenga M. Transtornos alimentares: uma visão nutricional. 1ª ed. Barueri, SP: Manole; 2004.

Tri Delta [Internet]. [acesso em 2014 Aug 18]. Disponível em: http://www.tridelta.org/thecenter/ourinitiatives/reflectionsbodyimageprogram

Aratangy EW, Kaio DJI, Fassarela ES. Transtornos psiquiátricos e condutas nutricionais: Anorexia nervosa. In: Cordás TA, Kachani AT. Nutrição em Psiquiatria. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2010. p. 135-152.

3 comentários:

  1. Simplesmente ridículo esse comentário. Marilyn Monroe, mesmo depois de 52 anos de sua morte, continua sendo uma das maiores estrelas de Hollywood.Já Liz Hurley....É aquela atriz sem talento que levou chifre de Hugh Grant.Ela devia se enxergar.

    ResponderExcluir