O cartão de visita é uma das
ferramentas de aproximação do profissional com o cliente/paciente. Quando
terminei a graduação, achei que seria interessante ter um.
Eu já conhecia o trabalho moderno
e diferenciado da Twee Art, as designers
já conheciam minha postura como nutricionista e entrei em contato com a ideia
de um cartão que fosse marcante, que não fosse tradicional, que tivesse a cor
vermelha (minha cor favorita) em algum lugar e que de alguma forma lembrasse
nutrição. Disse que gostaria também que tivesse transparência ou formato
arredondado.
De imediato foi sugerida a
maçã. Ó céus, onde foi que eu errei? De fato a maçã pode ser vermelha,
arredondada, lembra nutrição e não resultaria num cartão tradicional. Mas
maçã?! Aquela que é símbolo do nutricionismo, da ortorexia, da neura, do sacrifício, da
nutrição com sabor de isopor e que frequentemente vem acompanhada da balança e
da fita métrica?! Neguei veementemente, não gostaria em hipótese alguma que meu
trabalho fosse reduzido, simplificado a isso.
As designers compreenderam meu ponto de vista, alegaram que
conseguiriam tornar essa ideia da maçã interessante, mas me garantiram que
obviamente iriam pensar em algumas outras possibilidades. Ufa!
Após um tempo de pesquisa e
criação, elas apresentaram 3 modelos. Um lembrava a Pirâmide Alimentar, outro a
tabela nutricional e o outro, bem, o outro vocês já conhecem, é a tal maçã da
discórdia! A verdade é: me apaixonei pelo cartão! Não era um símbolo pedante. Eu
queria que aquele fosse o meu cartão!
Para minha surpresa, à
medida que eu entregava o cartão, as pessoas diziam “Que legal seu cartão! É um
tomatinho?”, “Que linda a cerejinha!”, “O que é, uma maçã?”. Nada melhor do que
instigar a imaginação e a curiosidade das pessoas. A imagem da maçã da
nutricionista fardada aos poucos foi dando lugar às outras maçãs... Por que não
associar às maçãs da mitologia, do desejo, da ciência, do questionamento, do
“Fome de quê?”?
Não estou tentando me
justificar (mesmo porque ninguém me perguntou), mas com tanta maçã mais
interessante, por que dar atenção àquela?
Por muito tempo cristãos
acreditaram que os males e o sofrimento da humanidade originaram-se a partir do
momento em que Eva compartilhou com Adão uma maçã, fruto proibido por Deus. O
mais engraçado é saber que o Jardim do Éden é localizado na Mesopotâmia,
território do Iraque, cujo clima não é propício ao cultivo de macieiras. Logo
não havia maçã nenhuma. Mais engraçado ainda é saber que a Bíblia, em momento
algum, disse que era uma maçã! Enfim.
Esta metáfora da maçã já foi
aproveitada para divulgação de cosmético, perfume, histórias infantis e artistas.
![]() |
Lime Crime, Nina Ricci, Branca de Neve, No Doubt e Angelina Jolie |
Tiveram outras maçãs
interessantes, como a que caiu na cabeça do Newton e fez com que ele ficasse
ciente daquela força, hoje conhecida como gravidade. Outra maçã da ciência e da
tecnologia é a contemporânea Apple,
do Steve Jobs.
Uma das minhas histórias
favoritas, talvez pela minha infância regada à Roberto Bolaños, é a do
Guilherme Tell (Wilhelm Tell), que desafiou o tirano governador austríaco e
pagou sua vida e liberdade atirando uma flecha numa maçã sobre a cabeça de seu
filho. Esta lenda virou símbolo das lutas independentistas no século XV.
O alimento tem diversos significados.
Podemos escolher um alimento simplesmente por causa do sabor. Comer também está
relacionado a uma área do cérebro que nos traz lembranças, como o cheirinho
gostoso do bolo que a vovó costumava assar no café da tarde. Nossas escolhas
alimentares dependem de questões religiosas, como por exemplo a culinária
judaica kosher e o hábito dos
muçulmanos em jejuar no Ramadã, ou de questões ideológicas como é o caso de
alguns vegetarianos. Nós comemos também para nos socializar – fazemos refeições
comemorativas, comemos bolo nas festas de aniversário e no trabalho
fazemos uma breve pausa para o café. Algumas pessoas evitam ou eliminam
alimentos da sua dieta por causa de alergias, intolerâncias alimentares,
para controlar ou evitar doenças crônicas não transmissíveis, por preocupação
com a saúde ou estética, porque é calórica, gordurosa e “engordativa”.
Ou seja, analisar o alimento
apenas sobre o âmbito nutricional é limitado. Fica claro que a comida é
carregada de símbolos, significados e sentimentos que diferem de indivíduo para
indivíduo e isso norteia nossas escolhas alimentares e define uma parte de quem
somos.
Por aquilo que eu entendo
por maçã, estou satisfeita.
Tomate, cereja, maçã... O
que quiserem!
Referência:
Alvarenga M. A mudança na
alimentação e no corpo ao longo do tempo. In: Philippi ST, Alvarenga M.
Transtornos alimentares: uma visão nutricional. 1ªed. Barueri, São Paulo:
Manole; 2004. p1-20.
Não faltou nem o Newtão no texto. Muito legal!!!
ResponderExcluirInteressante a sua explicação para o seu "cartão" muito inteligente da sua parte! Legal mesmo, de verdade!
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