Quem acompanha o Fome de quê? sabe que falo muito sobre o
conceito de alimentação saudável sem radicalismo, que prioriza a saúde, o
bem-estar, as particularidades de cada indivíduo e o bom senso. Espero já ter
dado alguns exemplos do que isto significa, mas pretendo sumarizar este
conceito em breve.
Ao pensar neste post lembrei de um livro de que gosto
muito, o Em defesa da comida – Um
manifesto, que traz na contracapa algumas “regras” do que o autor considera
uma alimentação saudável. Algumas são até engraçadas como a primeira: “Não coma
nada que sua avó não reconheceria como comida”. A segunda é igualmente
interessante: “Evite comidas contendo ingredientes cujos nomes você não possa
pronunciar”. “Evite produtos alimentícios que aleguem vantagens para sua saúde”
é outra que considero importante.
Por mais que a gente dê
preferência a produtos frescos como verduras, legumes, frutas, carnes, ovos, é
muito difícil viver atualmente apenas de produtos 100% naturais. Alface
orgânico, comercializado em embalagem plástica, é 100% natural? Encontramos
leite em embalagens tetra pak, os
laticínios (queijos, iogurtes) que a maioria de nós consome diariamente são
industrializados, pães, biscoitos, massas... É difícil estabelecer o que é
natural, o que é minimamente ou altamente processado.
Também sei que ninguém tem
tempo de sobra... Tendo em vista tantos produtos comercializados em embalagens,
variedade de marcas e apelo de marketing, a leitura do rótulo é importante para
guiar o seu direito de escolha.
A lista de ingredientes não
funciona exatamente como uma receita, onde temos discriminadas as quantidades
certas de cada ingrediente e modo de preparo, mas obrigatoriamente consta todos
os ingredientes envolvidos na fabricação do produto, que é fundamental para que
a gente saiba o que compramos, o que vamos comer e o que oferecemos à nossa
família.
Aí vai a 1ª dica importante:
os ingredientes aparecem em ordem decrescente,
ou seja, o primeiro é o que está em maior quantidade e o último está em menor
quantidade no produto.
2ª informação importante:
Aditivo alimentar é “qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos
alimentos, sem o propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as
características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais”. No Brasil, a
regulamentação do uso de aditivos para a fabricação de alimentos compete à
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). São utilizadas dezenas de
produtos dentro das categorias corantes, edulcorantes (adoçantes),
estabilizantes, conservadores, umectantes, antioxidantes, aromatizantes,
acidulantes, etc... Estes nomes geralmente vem no final da lista de
ingredientes.
Exemplos
1
– Suco* de laranja de caixinha (embalagem tetra pak)
*De acordo com a legislação
são néctares
Ambos são da mesma marca,
mas são comercializados com nomes diferentes. O néctar da foto 1 tem mais água
e açúcar do que suco de laranja propriamente dito! Já o da foto 2 tem mais suco
da laranja, seguido por água e açúcar. Se o intuito de beber um néctar de
laranja é que este se aproxime mais da fruta, entre estes 2 produtos, o segundo
seria o mais indicado.
Lembrando de toda a
discussão que já tivemos aqui.
2
– Pão de forma integral
Muitas pessoas já me
perguntaram se o pão integral tem realmente mais fibras e é mais vantajoso do
que o consumo do pão branco.
O pão 1 tem mais farinha
branca (farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico) do que integral,
o que não acontece no 2 e 3.
Mas não basta ler só isso. O
açúcar aparece em até 5º lugar em todos eles.
Com relação à gordura, o 3
usa óleo de palma, que possui muita gordura saturada! O óleo de palma veio para
substituir a gordura vegetal (que é a hidrogenada, gordura trans). Estas são associadas a aumento de chances do
desenvolvimento de doenças do coração, mas as saturadas também aumentam e devem
ser evitadas.
Procure o que tiver mais
fibras alimentares na porção, menor quantidade de açúcar, evitar os que tenham
gordura vegetal e/ou óleo de palma e o que tiver melhor sabor, claro.
3
– Barrinhas de cereais
Estas também são muito
polêmicas e viraram praticamente símbolo da alimentação saudável. Será que são
mesmo?
As duas são barras de
cereais sabor morango com cobertura sabor chocolate. Pra começar, nenhuma
delas é realmente de morango com chocolate...
A 1ª já começou errado...
Como o principal ingrediente é o xarope de glicose? Não era pra ser barra de
cereal? Xarope de glicose nada mais é do que açúcar! E ainda tem açúcar e
outros sinônimos de açúcar que se repetem: maltodextrina e açúcar invertido.
Fora isso tem a gordura de palma.
A 2ª barrinha tem a aveia em
flocos em maior quantidade, mas o 2º ingrediente é uma cobertura sabor
chocolate, e não foi especificado o que tem nela. Mas nem precisa – logo
aparecem as palavras xarope de glicose, açúcar, maltodextrina e gordura de
palma.
Sem falar da imensa lista de
aditivos alimentares pra manter essa mistura apropriada para consumo.
Se as barrinhas de cereais forem
uma eventual opção de lanche, pra dar energia entre as refeições, não há motivo
para fazer terrorismo. Entre as duas barrinhas acima, no entanto, eu
particularmente recomendaria uma que fornecesse energia, com mais fibras,
vitaminas e minerais e menos aditivos alimentares – uma fruta!
A lista de ingredientes nos
ajuda a ter uma noção da composição do produto. O importante é prestar atenção
na frequência com a qual ingerimos determinados produtos e, na hora da compra, considerar
a preferência aos alimentos frescos.
Referências
Pollan M. Em Defesa da
Comida. Rio de Janeiro. Ed. Intrínseca; 2008. p.35-39.
Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa). Manual de orientações aos consumidores –
Educação para o Consumo Saudável [Internet]. Distrito Federal: Universidade de
Brasília; Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2008.
24p [acesso em 2013 Oct 1]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/rotulos/manual_consumidor.pdf
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