quarta-feira, 2 de outubro de 2013

De olho nos rótulos dos alimentos – Lista de Ingredientes PARTE I




Quem acompanha o Fome de quê? sabe que falo muito sobre o conceito de alimentação saudável sem radicalismo, que prioriza a saúde, o bem-estar, as particularidades de cada indivíduo e o bom senso. Espero já ter dado alguns exemplos do que isto significa, mas pretendo sumarizar este conceito em breve.

Ao pensar neste post lembrei de um livro de que gosto muito, o Em defesa da comida – Um manifesto, que traz na contracapa algumas “regras” do que o autor considera uma alimentação saudável. Algumas são até engraçadas como a primeira: “Não coma nada que sua avó não reconheceria como comida”. A segunda é igualmente interessante: “Evite comidas contendo ingredientes cujos nomes você não possa pronunciar”. “Evite produtos alimentícios que aleguem vantagens para sua saúde” é outra que considero importante.

Por mais que a gente dê preferência a produtos frescos como verduras, legumes, frutas, carnes, ovos, é muito difícil viver atualmente apenas de produtos 100% naturais. Alface orgânico, comercializado em embalagem plástica, é 100% natural? Encontramos leite em embalagens tetra pak, os laticínios (queijos, iogurtes) que a maioria de nós consome diariamente são industrializados, pães, biscoitos, massas... É difícil estabelecer o que é natural, o que é minimamente ou altamente processado.

Também sei que ninguém tem tempo de sobra... Tendo em vista tantos produtos comercializados em embalagens, variedade de marcas e apelo de marketing, a leitura do rótulo é importante para guiar o seu direito de escolha. 

A lista de ingredientes não funciona exatamente como uma receita, onde temos discriminadas as quantidades certas de cada ingrediente e modo de preparo, mas obrigatoriamente consta todos os ingredientes envolvidos na fabricação do produto, que é fundamental para que a gente saiba o que compramos, o que vamos comer e o que oferecemos à nossa família.

Aí vai a 1ª dica importante: os ingredientes aparecem em ordem decrescente, ou seja, o primeiro é o que está em maior quantidade e o último está em menor quantidade no produto.

2ª informação importante: Aditivo alimentar é “qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos, sem o propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais”. No Brasil, a regulamentação do uso de aditivos para a fabricação de alimentos compete à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). São utilizadas dezenas de produtos dentro das categorias corantes, edulcorantes (adoçantes), estabilizantes, conservadores, umectantes, antioxidantes, aromatizantes, acidulantes, etc... Estes nomes geralmente vem no final da lista de ingredientes.

Exemplos

1 – Suco* de laranja de caixinha (embalagem tetra pak)
*De acordo com a legislação são néctares



Ambos são da mesma marca, mas são comercializados com nomes diferentes. O néctar da foto 1 tem mais água e açúcar do que suco de laranja propriamente dito! Já o da foto 2 tem mais suco da laranja, seguido por água e açúcar. Se o intuito de beber um néctar de laranja é que este se aproxime mais da fruta, entre estes 2 produtos, o segundo seria o mais indicado.

Lembrando de toda a discussão que já tivemos aqui.

2 – Pão de forma integral

Muitas pessoas já me perguntaram se o pão integral tem realmente mais fibras e é mais vantajoso do que o consumo do pão branco.










O pão 1 tem mais farinha branca (farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico) do que integral, o que não acontece no 2 e 3.

Mas não basta ler só isso. O açúcar aparece em até 5º lugar em todos eles.

Com relação à gordura, o 3 usa óleo de palma, que possui muita gordura saturada! O óleo de palma veio para substituir a gordura vegetal (que é a hidrogenada, gordura trans). Estas são associadas a aumento de chances do desenvolvimento de doenças do coração, mas as saturadas também aumentam e devem ser evitadas.

Procure o que tiver mais fibras alimentares na porção, menor quantidade de açúcar, evitar os que tenham gordura vegetal e/ou óleo de palma e o que tiver melhor sabor, claro.

3 – Barrinhas de cereais

Estas também são muito polêmicas e viraram praticamente símbolo da alimentação saudável. Será que são mesmo?







As duas são barras de cereais sabor morango com cobertura sabor chocolate. Pra começar, nenhuma delas é realmente de morango com chocolate...

A 1ª já começou errado... Como o principal ingrediente é o xarope de glicose? Não era pra ser barra de cereal? Xarope de glicose nada mais é do que açúcar! E ainda tem açúcar e outros sinônimos de açúcar que se repetem: maltodextrina e açúcar invertido. Fora isso tem a gordura de palma.

A 2ª barrinha tem a aveia em flocos em maior quantidade, mas o 2º ingrediente é uma cobertura sabor chocolate, e não foi especificado o que tem nela. Mas nem precisa – logo aparecem as palavras xarope de glicose, açúcar, maltodextrina e gordura de palma.
Sem falar da imensa lista de aditivos alimentares pra manter essa mistura apropriada para consumo.

Se as barrinhas de cereais forem uma eventual opção de lanche, pra dar energia entre as refeições, não há motivo para fazer terrorismo. Entre as duas barrinhas acima, no entanto, eu particularmente recomendaria uma que fornecesse energia, com mais fibras, vitaminas e minerais e menos aditivos alimentares – uma fruta!

A lista de ingredientes nos ajuda a ter uma noção da composição do produto. O importante é prestar atenção na frequência com a qual ingerimos determinados produtos e, na hora da compra, considerar a preferência aos alimentos frescos.

Referências

Pollan M. Em Defesa da Comida. Rio de Janeiro. Ed. Intrínseca; 2008. p.35-39.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Manual de orientações aos consumidores – Educação para o Consumo Saudável [Internet]. Distrito Federal: Universidade de Brasília; Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2008. 24p [acesso em 2013 Oct 1]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/rotulos/manual_consumidor.pdf

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) [Internet]. [acesso em 2013 Oct 1]. Aditivos para Fabricação de Alimentos; [1 tela]. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/c514f60047457f408af5de3fbc4c6735/Tabela_Aditivo_GMC11-2006_LGH.pdf?MOD=AJPERES

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