Estamos cansados de ouvir
médicos e nutricionistas falando o tempo todo que gordura saturada (encontrada
na gordura animal – manteiga, queijos amarelos, leite integral, gordura e pele
de carnes, embutidos, sorvetes, cremes, chantilly...) faz mal porque, além de
ser calórica e contribuir para a obesidade, também aumenta as chances de
desenvolver doenças cardíacas, como o infarto. Certo?
E atualmente vivemos
bombardeados por informações nutricionais, tabelas nutricionais e rótulos,
profissionais na mídia, gurus do Instagram... Já perdemos a referência “do que
comer”... Semana passada o que disseram na TV que era bom parece não ser tão
bom assim, não é verdade?
A correria do dia a dia
virou sinônimo de consumo de alimentos altamente processados, congelados,
enlatados, snacks, salgadinhos. Em
contrapartida encontramos produtos alimentícios intitulados “saudáveis”, sem
açúcar, sem gordura, sem glúten, sem lactose, sem isso, sem aquilo... Nada
contra, existem pessoas que realmente necessitam e se beneficiam deles, mas não
entendo o interesse de “indivíduos saudáveis” por estes produtos.
Sem falar nos pós... Pós de
proteínas, pós que viram sucos, sobremesas e sei lá mais o que. De novo... Suplementos
de proteínas atendem necessidades específicas de pessoas específicas, mas
continuo sem entender o fetiche das “pessoas saudáveis sem demanda aumentada
por um nutriente específico” por pós... Ou cápsulas. Não são “comida”, são
“produtos”.
Enfim, é uma grande guerra
entre “o bem” e “o mal”, “o certo” e “o errado”, “o jejum” e “a fartura”, “o
prazer” e “a culpa”.
Os americanos estão na
“batalha contra a obesidade” (não gosto deste termo, imagino gladiadores
trucidando obesos na rua...), e quanto mais aparecem informações nutricionais,
mais surgem dietas, restrições alimentares e culpa, quanto maior é o acesso a
alimentos sem os “nutrientes que fazem mal” (gordura, açúcar, carboidratos,
lactose, glúten, que eles chamam de “low
fat/fat free”, “sugar free”, “low carb”, “lac free” e “glúten free”
respectivamente), menor é a prevalência da obesidade, certo? ERRADO!
Esta realidade
norte-americana se parece muito com a nossa. Mas e na França?
Enquanto isso os franceses
estão lá, comendo tranquila e pausadamente, aproveitando seus queijos, vinhos, croissants, manteiga, chocolate, macarons, crème brûlée... Ou seja, comendo gordura saturada, carboidratos,
glúten, açúcar. Logo... devem estar ficando obesos e morrendo de doenças
cardiovasculares, certo? ERRADO!
croissant |
Crème brûlée |
Macaron |
Isto é, de modo muito simplista, o que chamamos de
paradoxo francês – apesar do alto consumo de gorduras saturadas e de apresentar
taxas de colesterol semelhantes às dos americanos, os franceses apresentam
baixa taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares!
E como isso?!
Por muitos anos
pesquisadores apontaram os nutrientes presentes no vinho como resposta para
este paradoxo. Os compostos fenólicos (resveratrol, antocianinas e outros
flovonoides) apresentam capacidade antioxidante que estão associados à redução
de incidência de doenças cardiovasculares. No entanto, o comportamento
alimentar e o estilo de vida dos franceses contribuem significativamente para
este fenômeno.
É óbvio que eles não se
alimentam só disso... Existe todo o contexto da comida mediterrânea. Eles
consomem peixes, ervas, legumes e vegetais frescos, frutas, azeite, mas não abrem mão daquilo que lhes dá
prazer, não comem com culpa!
"Lola, você está comendo manteiga?/ Estou tentando emagrecer./ É por isso que os franceses são tão magros." (em tradução livre) |
Como se permitem comer, não
devoram na velocidade nem na quantidade que uma pessoa que nunca come isso
comeria se tivesse carta branca. Não se trata de um “pé na jaca” do tipo “já
que liberou, então vou comer à vontade, porque depois não vou poder”. Eles
comem o que têm vontade, em pequenas quantidades, sem pressa, sem culpa, e
param de comer quando estão satisfeitos, se a comida esfriou ou está remexida
demais.
E quando o paciente fala "Sabe qual é o meu problema? É que eu gosto muito de comer...". Já assistiu Ratatouille? Anton
Ego, o tal crítico gastronômico francês do filme, quando questionado sobre sua
magreza (“como você pode gostar de comida se você é magro?”) respondeu: “eu não
GOSTO de comida, eu AMO comida. Se você não gosta, você a engole”. Se não
assistiu, assista, vale à pena.
Anton Ego |
Outra coisa que diferencia
os hábitos dos franceses com os dos americanos (ou os nossos) é que eles são
fisicamente mais ativos: andam mais a pé, locomovem-se de bicicleta, caminham
bastante, sobem e descem escadas. Aqui, qualquer saída de casa é motivo pra pegar o
carro – pra ir à padaria, pra levar as crianças na escola, pra ir à academia!
Utilizamos elevadores, escadas rolantes...
Este tema pode parecer
ultrapassado, mas será que este assunto está esgotado ou ainda podemos tirar
uma lição disso tudo?
Eu particularmente acredito
que o comportamento alimentar seja tão importante quanto a parte nutricional da
alimentação. Os franceses comem. Os americanos (me refiro ao estilo americano,
ora copiado por muitas outras nacionalidades, inclusive a nossa) se empanturram
de comida, deglutem alimentos no modo automático e procuram vilões.
"Estados Unidos: Legal - armas automáticas/ Ilegal - queijos franceses" (em tradução livre) |
Tampouco conseguimos eleger mocinhos da dieta. A
saúde é resultado de muitos fatores, que vão desde a frequência e tamanho de
porções em que comemos determinados alimentos, a variedade da alimentação, o
nível de atividade física, estilo de vida, fatores genéticos, ambientais, etc.
Tenha um bom dia! ;)
Thais, parabéns pelo seu blog! A cada postagem que eu leio, um conhecimento a mais pra mim. Ainda sou graduanda de Nutrição, mas acompanhar o seu blog vai me fazer uma nutricionista mais entendida. Amei mesmo! Isabela :)
ResponderExcluirOi Thais!
ResponderExcluirUm dos "truques" franceses para a saúde, é a regra de comer 5 tipos de alimentos naturais diferentes por dia, no mínimo.
Como por exemplo, 2 tipos de legumes e 1 fruta no almoço, e 2 tipos de folhas no jantar.
O tipo do alimento varia a vontade, mas a regra é levada a serio! Tem que ter no mínimo 5 opções variadas por dia.
Outro ponto que acho que também conta pontos, ele servem a refeição por etapas.
Por exemplo...
No cafe, primeiro uma fruta, depois pães/mingal/omelete resto de torta do jantar (qualquer alimento mais pesado, para sustentar), depois leite/café/chá...
Almoço deles geralmente é mais leve que o nosso brasileiro, uma torta com salada, ou um lanche..
Já no jantar, entrada - prato principal - sobremesa - queijos! E a entrada geralmente é uma salada ou legumes..
Acho nosso hábito de manter o almoço mais pesado e o jantar mais leve melhor do que o deles.
Mas a variedade e o equilíbrio nas porções francesas me encanta! E o hábito forte, eles são muito disciplinados!