quinta-feira, 3 de abril de 2014

Você já ouviu falar em “paradoxo francês”?


Estamos cansados de ouvir médicos e nutricionistas falando o tempo todo que gordura saturada (encontrada na gordura animal – manteiga, queijos amarelos, leite integral, gordura e pele de carnes, embutidos, sorvetes, cremes, chantilly...) faz mal porque, além de ser calórica e contribuir para a obesidade, também aumenta as chances de desenvolver doenças cardíacas, como o infarto. Certo?

E atualmente vivemos bombardeados por informações nutricionais, tabelas nutricionais e rótulos, profissionais na mídia, gurus do Instagram... Já perdemos a referência “do que comer”... Semana passada o que disseram na TV que era bom parece não ser tão bom assim, não é verdade?

A correria do dia a dia virou sinônimo de consumo de alimentos altamente processados, congelados, enlatados, snacks, salgadinhos. Em contrapartida encontramos produtos alimentícios intitulados “saudáveis”, sem açúcar, sem gordura, sem glúten, sem lactose, sem isso, sem aquilo... Nada contra, existem pessoas que realmente necessitam e se beneficiam deles, mas não entendo o interesse de “indivíduos saudáveis” por estes produtos.

Sem falar nos pós... Pós de proteínas, pós que viram sucos, sobremesas e sei lá mais o que. De novo... Suplementos de proteínas atendem necessidades específicas de pessoas específicas, mas continuo sem entender o fetiche das “pessoas saudáveis sem demanda aumentada por um nutriente específico” por pós... Ou cápsulas. Não são “comida”, são “produtos”.

Enfim, é uma grande guerra entre “o bem” e “o mal”, “o certo” e “o errado”, “o jejum” e “a fartura”, “o prazer” e “a culpa”.

Os americanos estão na “batalha contra a obesidade” (não gosto deste termo, imagino gladiadores trucidando obesos na rua...), e quanto mais aparecem informações nutricionais, mais surgem dietas, restrições alimentares e culpa, quanto maior é o acesso a alimentos sem os “nutrientes que fazem mal” (gordura, açúcar, carboidratos, lactose, glúten, que eles chamam de “low fat/fat free”, “sugar free”, “low carb”, “lac free” e “glúten free” respectivamente), menor é a prevalência da obesidade, certo? ERRADO!

Esta realidade norte-americana se parece muito com a nossa. Mas e na França?

Enquanto isso os franceses estão lá, comendo tranquila e pausadamente, aproveitando seus queijos, vinhos, croissants, manteiga, chocolate, macarons, crème brûlée... Ou seja, comendo gordura saturada, carboidratos, glúten, açúcar. Logo... devem estar ficando obesos e morrendo de doenças cardiovasculares, certo? ERRADO!

croissant

Crème brûlée

Macaron


Isto é, de modo muito simplista, o que chamamos de paradoxo francês – apesar do alto consumo de gorduras saturadas e de apresentar taxas de colesterol semelhantes às dos americanos, os franceses apresentam baixa taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares!

E como isso?!

Por muitos anos pesquisadores apontaram os nutrientes presentes no vinho como resposta para este paradoxo. Os compostos fenólicos (resveratrol, antocianinas e outros flovonoides) apresentam capacidade antioxidante que estão associados à redução de incidência de doenças cardiovasculares. No entanto, o comportamento alimentar e o estilo de vida dos franceses contribuem significativamente para este fenômeno.



É óbvio que eles não se alimentam só disso... Existe todo o contexto da comida mediterrânea. Eles consomem peixes, ervas, legumes e vegetais frescos, frutas, azeite, mas não abrem mão daquilo que lhes dá prazer, não comem com culpa!

"Lola, você está comendo manteiga?/ Estou tentando emagrecer./ É por isso que os franceses são tão magros." (em tradução livre)
Como se permitem comer, não devoram na velocidade nem na quantidade que uma pessoa que nunca come isso comeria se tivesse carta branca. Não se trata de um “pé na jaca” do tipo “já que liberou, então vou comer à vontade, porque depois não vou poder”. Eles comem o que têm vontade, em pequenas quantidades, sem pressa, sem culpa, e param de comer quando estão satisfeitos, se a comida esfriou ou está remexida demais.

"Porque os franceses não engordam:
Francês: "Eu parei de comer porque a comida já não parece apetitosa."
Americano: "Eu parei de comer porque o prato está vazio e o programa de TV acabou!"
Parisienses são 1,5 vezes mais propensos a parar de comer por causas internas (como por exemplo se sentirem saciados) do que os americanos de Chicago" (em tradução livre)
E quando o paciente fala "Sabe qual é o meu problema? É que eu gosto muito de comer...". Já assistiu Ratatouille? Anton Ego, o tal crítico gastronômico francês do filme, quando questionado sobre sua magreza (“como você pode gostar de comida se você é magro?”) respondeu: “eu não GOSTO de comida, eu AMO comida. Se você não gosta, você a engole”. Se não assistiu, assista, vale à pena.

Anton Ego

Outra coisa que diferencia os hábitos dos franceses com os dos americanos (ou os nossos) é que eles são fisicamente mais ativos: andam mais a pé, locomovem-se de bicicleta, caminham bastante, sobem e descem escadas. Aqui, qualquer saída de casa é motivo pra pegar o carro – pra ir à padaria, pra levar as crianças na escola, pra ir à academia! Utilizamos elevadores, escadas rolantes...






Este tema pode parecer ultrapassado, mas será que este assunto está esgotado ou ainda podemos tirar uma lição disso tudo?

Eu particularmente acredito que o comportamento alimentar seja tão importante quanto a parte nutricional da alimentação. Os franceses comem. Os americanos (me refiro ao estilo americano, ora copiado por muitas outras nacionalidades, inclusive a nossa) se empanturram de comida, deglutem alimentos no modo automático e procuram vilões.

"Estados Unidos: Legal - armas automáticas/ Ilegal - queijos franceses" (em tradução livre)

Tampouco conseguimos eleger mocinhos da dieta. A saúde é resultado de muitos fatores, que vão desde a frequência e tamanho de porções em que comemos determinados alimentos, a variedade da alimentação, o nível de atividade física, estilo de vida, fatores genéticos, ambientais, etc.


Tenha um bom dia! ;)

2 comentários:

  1. Thais, parabéns pelo seu blog! A cada postagem que eu leio, um conhecimento a mais pra mim. Ainda sou graduanda de Nutrição, mas acompanhar o seu blog vai me fazer uma nutricionista mais entendida. Amei mesmo! Isabela :)

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  2. Oi Thais!
    Um dos "truques" franceses para a saúde, é a regra de comer 5 tipos de alimentos naturais diferentes por dia, no mínimo.
    Como por exemplo, 2 tipos de legumes e 1 fruta no almoço, e 2 tipos de folhas no jantar.
    O tipo do alimento varia a vontade, mas a regra é levada a serio! Tem que ter no mínimo 5 opções variadas por dia.

    Outro ponto que acho que também conta pontos, ele servem a refeição por etapas.

    Por exemplo...

    No cafe, primeiro uma fruta, depois pães/mingal/omelete resto de torta do jantar (qualquer alimento mais pesado, para sustentar), depois leite/café/chá...

    Almoço deles geralmente é mais leve que o nosso brasileiro, uma torta com salada, ou um lanche..

    Já no jantar, entrada - prato principal - sobremesa - queijos! E a entrada geralmente é uma salada ou legumes..

    Acho nosso hábito de manter o almoço mais pesado e o jantar mais leve melhor do que o deles.
    Mas a variedade e o equilíbrio nas porções francesas me encanta! E o hábito forte, eles são muito disciplinados!

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