Dieta... Quem nunca fez
dieta certamente conhece alguém que já se aventurou em uma. O conceito original
de “dieta”, conjunto de alimentos e bebidas habitual e diariamente consumidos
por uma pessoa, foi transformado em algo que hoje conhecemos como sinônimo de
restrição, rigidez e sofrimento.
Sempre aparece (pelo menos
uma) celebridade com uma nova dieta, e não demora a ganhar muitos adeptos, virar
moda...
Pior do que “fazer dieta”
por conta própria ou comprar revistas sobre dieta é saber que existem
profissionais da saúde, colegas de profissão, que prescrevem dietas
indiscriminadamente e muitas vezes restritivas e deficientes em nutrientes. O
nutricionista não é um emagrecedor de pessoas, é, acima de tudo, um
profissional da saúde.
O
que são as dietas sem/pouco carboidrato?
As dietas mais conhecidas
desta categoria são a dieta do cardiologista norte-americano Atkins e do
nutrólogo francês Dukan. Enquanto na dieta Atkins é permitido o consumo de
alimentos fonte de proteínas com alto teor de gordura como bacon, laticínios
gordos e ovos à vontade, na versão da dieta Dukan as carnes permitidas são as
magras, sem gordura e/ou pele e laticínios magros.
Apesar disto, ambas
consistem na exclusão ou baixo consumo de alimentos fonte de carboidratos como
açúcar, mel, doces, arroz, massas, pães, biscoitos, milho, batata, mandioca,
cará, inhame, frutas, etc...
O
que prometem?
Prometem rápida perda de
peso e manutenção do peso atingido.
Um
breve parênteses
Quando comemos, inicia-se o
processo de digestão. Os alimentos são quebrados e há um aumento de nutrientes
na corrente sanguínea. Um dos nutrientes que aumenta no sangue é a glicose
(açúcar), proveniente da quebra daqueles alimentos ricos em carboidratos.
Quando isso acontece, o pâncreas das pessoas saudáveis* libera um hormônio
chamado insulina, que é responsável pela entrada de glicose (açúcar) nas
células.
Em destaque: pâncreas |
O corpo só consegue utilizar
como combustível (energia) uma certa quantidade de açúcar. Quando a quantidade
de açúcar produzido é muito grande, o corpo armazena, pra usar mais tarde, sob
a forma de glicogênio (nos músculos e no fígado) e, se a quantidade de açúcar
for muito maior que a necessária, o armazenamento ocorre na forma de gordura.
Este processo é fisiológico,
natural, ocorre toda vez que fazemos uma refeição. Nosso corpo estoca coisas
porque estamos gastando energia para a execução das atividades diárias a todo
instante. É claro que excessos não são bons para a saúde, mas não seria bom se
sempre desprezássemos tudo o que não fosse prontamente utilizado pelo
organismo.
*esta etapa é diferente em
indivíduos com diabetes tipo I, por exemplo
Os
contras...
Não existem evidências
científicas que comprovem a eficácia de dietas pobres em carboidratos a longo
prazo.
O organismo de pessoas
saudáveis está preparado para receber, digerir e absorver todos os nutrientes e
precisamos deles para ter saúde. Qualquer dieta que restrinja algum nutriente
irá causar algum tipo de dano, seja no corpo, seja no âmbito psicológico.
Perda de massa muscular.
Pois é!... Quando deixamos de comer carboidratos em quantidades adequadas,
nosso corpo não utiliza apenas a energia armazenada sob a forma de gordura, usa
também aquela glicose que estava guardada nos nossos músculos! Tudo isso para
produzir energia e alimentar o cérebro. Se não ingerimos carboidratos, a
energia tem que vir de outro lugar...
Pode haver falta de
nutrientes, principalmente com a ingestão exclusiva de alimentos fonte de
proteínas (carnes, embutidos, queijos, leite, iogurtes, ovos...).
Dietas constituídas essencialmente
por proteínas pode causar constipação e desconforto gástrico por demorar
bastante tempo para serem digeridas.
O consumo de carnes e
laticínios com alto teor de gordura, observado principalmente na dieta Atkins, aumenta
a ingestão de gorduras saturadas, que estão associadas ao aparecimento de
doenças cardiovasculares, como por exemplo o infarto.
A digestão dessas proteínas
produzem aminas, que são eliminadas pelos rins. Uma ingestão excessiva de
proteínas, por sua vez, pode provocar uma sobrecarga renal, aumentando os
riscos do desenvolvimento de insuficiência renal.
Em destaque: rins |
Nosso cérebro “alimenta-se” apenas
de glicose! Ele precisa de carboidratos para seu funcionamento. Por isso, os
efeitos adversos destas dietas podem ser o cansaço e o mau humor. Além disso,
os carboidratos desempenham papel fundamental na produção de energia, participam
da formação de células do nosso corpo e lubrificam as articulações.
A falta de carboidratos faz
com que o corpo use, dentre outras coisas, a gordura como fonte de energia, e
este processo dá origem a cetonas. A Cetose metabólica NÃO é um estado normal
do organismo e causa náuseas, fadiga, desidratação, tontura e mal hálito!
Dietas podem causar obsessão
por comida (você se lembra da Sara Goldfarb?), exageros e compulsões
alimentares (principalmente pelos alimentos “proibidos”) e ganho de peso! Por
isso não é raro que pessoas que têm o (péssimo) hábito de fazer dietas tenham o
peso maior do que quando decidiram fazer a 1ª dieta.
Dietas aumentam as chances
de um indivíduo geneticamente predisposto de desenvolver um transtorno alimentar.
Referências:
Marzzoco
A, Torres BB. Bioquímica Básica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999.
Patton, G C et al. Onset of
adolescent eating disorders: population based cohort study over 3 years. Brit Med Journal. 1999; 318:765-768.
Realmente eu senti tontura as vezes quando estava sem carboidratos... eu perdi 13 kgs desde o início da minha dieta, fiz experiências mas não consegui ficar mais de 4 dias sem carboidratos... ainda faltam mais uns 10 mas vou com moderação agora, obrigado.
ResponderExcluirExcelente post!Falou umas boas verdades...
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirGostei muito deste artigo! Esclarecedor! Desmascara o "vilão" carboidrato.
ResponderExcluirUtilidade pública!
ResponderExcluirÓtima publicação.