terça-feira, 27 de agosto de 2013

Desmitificando as Dietas da Moda – Dietas sem/pouco Carboidrato




Dieta... Quem nunca fez dieta certamente conhece alguém que já se aventurou em uma. O conceito original de “dieta”, conjunto de alimentos e bebidas habitual e diariamente consumidos por uma pessoa, foi transformado em algo que hoje conhecemos como sinônimo de restrição, rigidez e sofrimento.

Sempre aparece (pelo menos uma) celebridade com uma nova dieta, e não demora a ganhar muitos adeptos, virar moda... 

Pior do que “fazer dieta” por conta própria ou comprar revistas sobre dieta é saber que existem profissionais da saúde, colegas de profissão, que prescrevem dietas indiscriminadamente e muitas vezes restritivas e deficientes em nutrientes. O nutricionista não é um emagrecedor de pessoas, é, acima de tudo, um profissional da saúde.

O que são as dietas sem/pouco carboidrato?

 
As dietas mais conhecidas desta categoria são a dieta do cardiologista norte-americano Atkins e do nutrólogo francês Dukan. Enquanto na dieta Atkins é permitido o consumo de alimentos fonte de proteínas com alto teor de gordura como bacon, laticínios gordos e ovos à vontade, na versão da dieta Dukan as carnes permitidas são as magras, sem gordura e/ou pele e laticínios magros.

Apesar disto, ambas consistem na exclusão ou baixo consumo de alimentos fonte de carboidratos como açúcar, mel, doces, arroz, massas, pães, biscoitos, milho, batata, mandioca, cará, inhame, frutas, etc...

O que prometem?

Prometem rápida perda de peso e manutenção do peso atingido.

Um breve parênteses

Quando comemos, inicia-se o processo de digestão. Os alimentos são quebrados e há um aumento de nutrientes na corrente sanguínea. Um dos nutrientes que aumenta no sangue é a glicose (açúcar), proveniente da quebra daqueles alimentos ricos em carboidratos. Quando isso acontece, o pâncreas das pessoas saudáveis* libera um hormônio chamado insulina, que é responsável pela entrada de glicose (açúcar) nas células.

Em destaque: pâncreas
 
O corpo só consegue utilizar como combustível (energia) uma certa quantidade de açúcar. Quando a quantidade de açúcar produzido é muito grande, o corpo armazena, pra usar mais tarde, sob a forma de glicogênio (nos músculos e no fígado) e, se a quantidade de açúcar for muito maior que a necessária, o armazenamento ocorre na forma de gordura.

Este processo é fisiológico, natural, ocorre toda vez que fazemos uma refeição. Nosso corpo estoca coisas porque estamos gastando energia para a execução das atividades diárias a todo instante. É claro que excessos não são bons para a saúde, mas não seria bom se sempre desprezássemos tudo o que não fosse prontamente utilizado pelo organismo.

*esta etapa é diferente em indivíduos com diabetes tipo I, por exemplo

Os contras...

Não existem evidências científicas que comprovem a eficácia de dietas pobres em carboidratos a longo prazo.

O organismo de pessoas saudáveis está preparado para receber, digerir e absorver todos os nutrientes e precisamos deles para ter saúde. Qualquer dieta que restrinja algum nutriente irá causar algum tipo de dano, seja no corpo, seja no âmbito psicológico.

Perda de massa muscular. Pois é!... Quando deixamos de comer carboidratos em quantidades adequadas, nosso corpo não utiliza apenas a energia armazenada sob a forma de gordura, usa também aquela glicose que estava guardada nos nossos músculos! Tudo isso para produzir energia e alimentar o cérebro. Se não ingerimos carboidratos, a energia tem que vir de outro lugar...


Pode haver falta de nutrientes, principalmente com a ingestão exclusiva de alimentos fonte de proteínas (carnes, embutidos, queijos, leite, iogurtes, ovos...).

Dietas constituídas essencialmente por proteínas pode causar constipação e desconforto gástrico por demorar bastante tempo para serem digeridas.

O consumo de carnes e laticínios com alto teor de gordura, observado principalmente na dieta Atkins, aumenta a ingestão de gorduras saturadas, que estão associadas ao aparecimento de doenças cardiovasculares, como por exemplo o infarto.

 
A digestão dessas proteínas produzem aminas, que são eliminadas pelos rins. Uma ingestão excessiva de proteínas, por sua vez, pode provocar uma sobrecarga renal, aumentando os riscos do desenvolvimento de insuficiência renal.

Em destaque: rins
 
Nosso cérebro “alimenta-se” apenas de glicose! Ele precisa de carboidratos para seu funcionamento. Por isso, os efeitos adversos destas dietas podem ser o cansaço e o mau humor. Além disso, os carboidratos desempenham papel fundamental na produção de energia, participam da formação de células do nosso corpo e lubrificam as articulações.

A falta de carboidratos faz com que o corpo use, dentre outras coisas, a gordura como fonte de energia, e este processo dá origem a cetonas. A Cetose metabólica NÃO é um estado normal do organismo e causa náuseas, fadiga, desidratação, tontura e mal hálito!

Dietas podem causar obsessão por comida (você se lembra da Sara Goldfarb?), exageros e compulsões alimentares (principalmente pelos alimentos “proibidos”) e ganho de peso! Por isso não é raro que pessoas que têm o (péssimo) hábito de fazer dietas tenham o peso maior do que quando decidiram fazer a 1ª dieta.

Dietas aumentam as chances de um indivíduo geneticamente predisposto de desenvolver um transtorno alimentar.

Referências:

Marzzoco A, Torres BB. Bioquímica Básica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999.

Patton, G C et al. Onset of adolescent eating disorders: population based cohort study over 3 years. Brit Med Journal. 1999; 318:765-768.

5 comentários:

  1. Realmente eu senti tontura as vezes quando estava sem carboidratos... eu perdi 13 kgs desde o início da minha dieta, fiz experiências mas não consegui ficar mais de 4 dias sem carboidratos... ainda faltam mais uns 10 mas vou com moderação agora, obrigado.

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  2. Excelente post!Falou umas boas verdades...

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  3. Gostei muito deste artigo! Esclarecedor! Desmascara o "vilão" carboidrato.

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