Recentemente o livro publicado
pelo jornalista norte-americano Michael Moss “Salt, Sugar, Fat: How The Food
Giants Hooked Us” (Sal, Açúcar e Gordura: Como os Gigantes da Comida nos
Fisgaram, em tradução livre), como o próprio título sugere, trouxe novamente à
tona a discussão sobre as táticas adotadas pela indústria alimentícia para
conquistar cada vez mais o paladar dos consumidores.
É sabido que a adição de
sal, açúcar e gordura torna os alimentos palatáveis e assim fica fácil
compreender a tática usada para gerar lucro e acabar com a concorrência: quanto
mais “gostoso” o produto em relação ao concorrente, mais a marca sai ganhando.
Nada contra os alimentos
gostosos – já comentei várias vezes aqui no blog que uma alimentação saudável
deve ser, dentre outras coisas, saborosa, e isso
também não quer dizer que não existam alimentos saborosos que sejam “saudáveis”
– mas os alimentos industrializados, altamente processados, são, na maioria das
vezes, muito calóricos, pobres em nutrientes como vitaminas, minerais e fibras,
e promovem um rápido esvaziamento gástrico, ou seja, o indivíduo sente fome
pouco após a ingestão. Além disso, comer é prazeroso, e algumas pessoas podem
desenvolver um mecanismo de compensação, descrito por muitos como um “vício”.
É preciso deixar claro que nenhum
alimento por si só engorda ou é causador de doenças, mas o consumo exagerado
destes snacks pode levar à obesidade,
hipertensão arterial (pressão alta), doenças cardiovasculares e diabetes.
Eu não li o livro, mas este
debate sobre o tema me fiz refletir sobre 2 coisas:
A primeira é que, apesar dos
avanços da ciência acerca da etiologia multifatorial da obesidade, muitas
pessoas ainda a avaliam como sendo uma falha na motivação do indivíduo em
perder peso. Jogam-lhe a “culpa” e o acusam como se fosse um criminoso que
precisasse se defender. Já ouvi diversas vezes que o indivíduo obeso é
“sem-vergonha”, “preguiçoso”.
Sem considerar, por ora, a
predisposição genética e outros fatores que podem levar à obesidade, vamos
observar o ambiente: hoje em dia encontramos comida de qualquer tipo e em
qualquer lugar: seja virando a esquina, na padaria mais próxima da sua casa, no
trabalho, na escola, nas academias, no cinema. Até nos postos de gasolina! Sem
contar na variedade de opções oferecidas nas praças de alimentação dos shoppings.
Além disso, as porções dos
alimentos estão cada vez maiores e há incentivo, em forma de promoções, combos,
para a compra do produto “extra”, com “mais recheio”, “mais cobertura”, do “brinde”.
Citamos o cinema como ponto de venda de alimentos. Pois bem: qual era o tamanho
do saquinho da pipoca que nossos pais ou avós compravam e qual o tamanho do
balde disponível hoje em dia?
O ambiente atual é
extremamente obesogênico e somos bombardeados por informações sobre alimentação
e nutrição. É muito difícil escolher o que comer. Devo comer o que a mídia
disse que faz bem? Mas eu não gosto... Devo comer o que meu lado “dieta” disse?
Mas eu não quero... Devo comer aquilo que tenho vontade? Mas eu não posso...
Preferências e aversões
alimentares são pessoais. Gostar de fast
food ou alimentos altamente processados não deve ser encarado como um
problema. Independentemente do peso, ceder à vontade de comer a sua guloseima
favorita é superaceitável dentro do conceito de alimentação saudável. Só não
devemos substituir todas as refeições por elas, nem fazer disso uma rotina.
A segunda coisa, me
desculpem, vou ter que deixar para um próximo dia porque a conversa vai longe...
Referência:
Pisciolaro F, Azevedo AP. Transtorno da compulsão
alimentar periódica. In: Cordás TA, Kachani AT. Nutrição em psiquiatria. Porto
Alegre: Artmed; 2010. p.167-179.
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