sexta-feira, 19 de abril de 2013

Gigantes da Comida X Comida Gigante




 Recentemente o livro publicado pelo jornalista norte-americano Michael Moss “Salt, Sugar, Fat: How The Food Giants Hooked Us” (Sal, Açúcar e Gordura: Como os Gigantes da Comida nos Fisgaram, em tradução livre), como o próprio título sugere, trouxe novamente à tona a discussão sobre as táticas adotadas pela indústria alimentícia para conquistar cada vez mais o paladar dos consumidores.

É sabido que a adição de sal, açúcar e gordura torna os alimentos palatáveis e assim fica fácil compreender a tática usada para gerar lucro e acabar com a concorrência: quanto mais “gostoso” o produto em relação ao concorrente, mais a marca sai ganhando.

Nada contra os alimentos gostosos – já comentei várias vezes aqui no blog que uma alimentação saudável deve ser, dentre outras coisas, saborosa, e isso também não quer dizer que não existam alimentos saborosos que sejam “saudáveis” – mas os alimentos industrializados, altamente processados, são, na maioria das vezes, muito calóricos, pobres em nutrientes como vitaminas, minerais e fibras, e promovem um rápido esvaziamento gástrico, ou seja, o indivíduo sente fome pouco após a ingestão. Além disso, comer é prazeroso, e algumas pessoas podem desenvolver um mecanismo de compensação, descrito por muitos como um “vício”.

É preciso deixar claro que nenhum alimento por si só engorda ou é causador de doenças, mas o consumo exagerado destes snacks pode levar à obesidade, hipertensão arterial (pressão alta), doenças cardiovasculares e diabetes.

Eu não li o livro, mas este debate sobre o tema me fiz refletir sobre 2 coisas:

A primeira é que, apesar dos avanços da ciência acerca da etiologia multifatorial da obesidade, muitas pessoas ainda a avaliam como sendo uma falha na motivação do indivíduo em perder peso. Jogam-lhe a “culpa” e o acusam como se fosse um criminoso que precisasse se defender. Já ouvi diversas vezes que o indivíduo obeso é “sem-vergonha”, “preguiçoso”.

Sem considerar, por ora, a predisposição genética e outros fatores que podem levar à obesidade, vamos observar o ambiente: hoje em dia encontramos comida de qualquer tipo e em qualquer lugar: seja virando a esquina, na padaria mais próxima da sua casa, no trabalho, na escola, nas academias, no cinema. Até nos postos de gasolina! Sem contar na variedade de opções oferecidas nas praças de alimentação dos shoppings.

Além disso, as porções dos alimentos estão cada vez maiores e há incentivo, em forma de promoções, combos, para a compra do produto “extra”, com “mais recheio”, “mais cobertura”, do “brinde”. Citamos o cinema como ponto de venda de alimentos. Pois bem: qual era o tamanho do saquinho da pipoca que nossos pais ou avós compravam e qual o tamanho do balde disponível hoje em dia?

O ambiente atual é extremamente obesogênico e somos bombardeados por informações sobre alimentação e nutrição. É muito difícil escolher o que comer. Devo comer o que a mídia disse que faz bem? Mas eu não gosto... Devo comer o que meu lado “dieta” disse? Mas eu não quero... Devo comer aquilo que tenho vontade? Mas eu não posso...

Preferências e aversões alimentares são pessoais. Gostar de fast food ou alimentos altamente processados não deve ser encarado como um problema. Independentemente do peso, ceder à vontade de comer a sua guloseima favorita é superaceitável dentro do conceito de alimentação saudável. Só não devemos substituir todas as refeições por elas, nem fazer disso uma rotina.

A segunda coisa, me desculpem, vou ter que deixar para um próximo dia porque a conversa vai longe...

Referência:

Pisciolaro F, Azevedo AP. Transtorno da compulsão alimentar periódica. In: Cordás TA, Kachani AT. Nutrição em psiquiatria. Porto Alegre: Artmed; 2010. p.167-179.

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